Na década de 1960, em decorrência da crise econômica, debateu-se no Brasil qual a melhor estratégia de combate à inflação: se gradualista ou através de um "tratamento de choque", ou seja, com o anúncio de todas as medidas impopulares de uma só vez. Essa última era a preferida pela ortodoxia, mas o gradualismo acabou sendo adotado no governo Castelo Branco, e em poucos anos começava o ciclo de crescimento conhecido como "milagre".
Henrique Meirelles acaba de reinventar o gradualismo, mas desta feita para combater o déficit público. A medida não satisfaz os mais "afoitos do mercado", que querem cortes profundos e de uma tacada só. Mas Meirelles sabe das coisas, fora assim no governo Lula. Ele sabe que o governo tem escassa legitimidade, não suportaria um pacote de maldades. Temer, como vice, assinou o mesmo programa de Dilma. Ademais, o tempo é curto para mostrar resultados. Tratamentos, mesmo "de choque", precisam de tempo para surtir efeito. E Dilma está pronta para reassumir se tudo der errado. Sem contar que o Congresso é avesso a medidas impopulares, principalmente quando há eleição por perto. Ora, se é da área parlamentar que veio o atual governo, seria desastrosa uma derrota em casa. Meirelles sabe que as forças que votaram pelo impeachment são heterogêneas e sem compromisso com eventual programa de reformas.
Não pensemos, todavia, que sua estratégia possa não ser eficaz. A homeopatia – versão gradualista da medicina – é também vista com desconfiança pelos médicos tradicionais, mas os adeptos juram que seus tratamentos são os melhores para doenças crônicas, como asma e déficits estruturais. "Devagar porque tenho pressa", diz o ministro. Para os céticos e apressados, é bom lembrar que seu plano de manter a despesa executada tendo como teto a inflação do ano anterior, caso seja cumprido, representará diminuição sem precedentes do chamado "tamanho do Estado" – na prática, o fim do "pacto cidadão" da Constituição de 1988. O ministro sabe que não é coisa para um dia, só os amadores têm pressa. Mas cuidado: os adeptos da homeopatia costumam dizer que o tratamento depende mais do paciente que do médico, e é aí que as coisas podem dar errado.