José Galló, empresário e membro do Conselho Editorial da RBS
Em todos os momentos da nossa vida, seja em nível pessoal ou empresarial, não basta parecer, tem que ser. Essa máxima se aplica também à imprensa, que deve sempre ir em busca do que é, da realidade, e não da percepção da realidade. E por que estou escrevendo sobre isso? Porque a percepção da realidade pode gerar uma distorção na interpretação das coisas. Se um órgão de imprensa deixa de fazer seu papel de buscar os fatos com todos os cuidados e coloca no ar algo somente em cima da percepção terá um problema sério de credibilidade.
Empresas guiadas por esses valores são mais sustentáveis e resistentes às fake news
Neste contexto, entra em questão algo muito danoso: as fake news e as mídias sociais sem comprometimento com a verdade – que muitas vezes não tratam nem de uma percepção, mas de uma distorção da realidade. Em um fenômeno cada vez mais difícil de controlar, as pessoas acreditam naquele conteúdo e são enganadas. Pessoalmente, acredito que no longo prazo haverá uma decepção do público, levando a um amadurecimento em relação às fake news. Minha avaliação é de que o pico de fake news, felizmente, já passou. Se estiver correto, o próximo ciclo será extremamente positivo, porque o dano em termos de reputações pessoais e profissionais até aqui foi amplo.
A vigilância e a ação contra as fake news precisam ser constantes. A gente não deve se acomodar quando algo distorcido acontece. Especialmente empresas com boa reputação, que fazem um bom trabalho de sua marca e sua imagem, não devem deixar passar uma inverdade. E uma crise a partir de informações mentirosas é um grande teste, mas embute uma oportunidade para se praticar ainda mais a ética, a proximidade e o envolvimento com a comunidade. Empresas guiadas por esses valores são mais sustentáveis e resistentes às fake news.
Quando uma inverdade for disseminada, pare e identifique exatamente qual é o problema. Qual é a percepção errada? E o que é a realidade? Ouça todos os lados. Separe o que é realidade e o que é a camada emocional que pode piorar as reações ao que aconteceu. Não aja por impulso, evite o contencioso, trabalhe em cima de fatos e dados, dedique tempo para isso. Ataque o problema, não a percepção sobre o problema.
A imprensa profissional e o jornalismo investigativo – como o praticado pelo GDI do Grupo RBS – trabalham justamente em cima da busca da realidade, dos dados, e não com percepções. Nos comentários dos assinantes junto às reportagens, percebo que já há uma conscientização maior, colocando suas observações em cima dos fatos, e não com base em achismos. É esse o caminho a se buscar.