Frases curtas, melodia simples e de grande apelo emocional. Este é, grosso modo, a estrutura de um jingle. Em período eleitoral, eles são exaustivamente repetidos. Servem para apresentar o candidato. Alguns jingles resistiram à passagem do tempo e já garantiram espaço na memória afetiva de quem gosta de política. Neste especial, relembre alguns exemplos.
“Gegê, na hora H o povo conta com você”
Após 15 anos como presidente da República (1930-1945), Getúlio Vargas foi obrigado a deixar o poder. Ficou por quase cinco anos afastado das articulações políticas. No final da década de 1940, saiu do isolamento e concedeu uma entrevista ao jornalista Samuel Wainer. O político gaúcho declarou que voltaria como “líder das massas”. Foi o início de uma campanha que culminou com o retorno de Vargas ao comando do Brasil.
“Juscelino Kubitschek é homem”
Ainda traumatizado com o suicídio de Getúlio Vargas, os brasileiros foram às urnas escolher o novo presidente do Brasil. A vitória, em uma campanha marcada pela tensão, foi conquistada pelo mineiro Juscelino Kubitschek (JK). O jingle do candidato tinha como marca o tom messiânico.
“Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado”
Juscelino Kubitschek construiu Brasília, enfrentou crises e terminou o mandato já como um dos mitos da política nacional. O cenário parecia propício para que o candidato apoiado por JK fosse eleito presidente em 1960. No entanto, a História tem seus caprichos. Um homem público, com a trajetória construída em São Paulo, encantou o Brasil com uma pregação contra os políticos, a corrupção e em defesa do controle dos gastos públicos. Na campanha, o excêntrico Jânio Quadros prometia “varrer” a bandalheira do governo Kubitschek.
“Eu vou jangar”
Jânio Quadros foi eleito presidente da República. Ficou no poder por pouco tempo. Renunciou em 25 de agosto de 1961. Superada a crise da sucessão, João Goulart, que era o vice, assumiu o comando do País. Detalhe: nessa época, o vice-presidente era eleito através do voto direto. Jango foi escolhido vice-presidente do Brasil em 1955 e 1960.
“Vamos com Lacerda pra 65”
A disputa pela presidência da República em 1965 tinha tudo para ser épica. O pleito seria marcado pelo confronto entre JK, tentando voltar ao poder, e Carlos Lacerda, que sonhava em governar o Brasil. Os candidatos não tinham como saber, no entanto, que qualquer pretensão eleitoral seria aniquilada pelo Golpe Militar de 31 de março de 1964. O Brasil nunca viu a disputa entre Lacerda e JK. Sobrou para a História um jingle onde os lacerdistas prometiam um “governo de afinco”.
“Não vote em branco...”
Francisco Negrão de Lima venceu a disputa pelo governo do estado da Guanabara (hoje, cidade do Rio de Janeiro) em 1965. Havia na época uma forte campanha pelo voto em branco. A equipe de campanha resolveu, então, usar o sobrenome do candidato para fazer um trocadilho.
“Bote fé no velhinho”
Os brasileiros chegaram ao ano de 1989 com a expectativa de escolher, após três décadas, o presidente da República através do voto direto. As pesquisas de opinião mostravam que os eleitores queriam um candidato jovem, sem vínculo com a chamada política tradicional e com imagem de bom administrador. A equipe de Ulysses Guimarães, candidato do PMDB, contrariou as tendências do pleito e apostou em um material de campanha onde destacava a experiência do político.
“Brizola: o estadista”
Outro nome importante na disputa pela presidência em 1989 foi o político gaúcho Leonel Brizola. Ele ficou fora do segundo turno por pouco. Deixou para a História um jingle marcado pela esperança.
“Lula lá”
Luiz Inácio Lula da Silva já era conhecido pelos brasileiros desde que liderou grandes mobilizações sindicais no estado de São Paulo no final da década de 1970. Ele fundou o Partido dos Trabalhadores. Em 1989, entrou na disputa pela presidência da República como um forte candidato. Lula foi derrotado no segundo turno. Sobrou desta disputa uma canção que já faz parte da história das campanhas eleitorais no País.
“O Brasil precisa de um sangue novo”
Com uma campanha milimetricamente moldada para conquistar os eleitores insatisfeitos com os rumos da jovem democracia brasileira, Fernando Collor de Mello foi apresentado como o homem público jovem e impetuoso, que teria condições de mudar o país. A estratégia funcionou. Collor foi eleito presidente da República em 1989. O resto da história todo mundo já conhece.
“Fernando Henrique é o Brasil que vai vencer”
Fernando Henrique Cardoso entrou na corrida presidência de 1994 embalado pelo sucesso do Plano Real. Venceu a eleição no primeiro turno. Repetiria o feito quatro anos depois. Deixou para a história um jingle interpretado por Dominguinhos.
A lista de jingles poderia ser bem maior. A política brasileira até pode ter muitos problemas. Falta de criatividade, no entanto, não é um deles.