Os "obeliscos", pequenas moléculas comparáveis aos vírus, mas muito mais simples, são uma das grandes descobertas recentes e parecem onipresentes em nosso organismo, embora por enquanto levantem mais perguntas do que respostas.
"Seu papel em nossa saúde não está estabelecido nem claro", disse Karim Majzoub, virologista do Instituto de Genética Molecular de Montpellier, à AFP.
São pequenos filamentos de RNA fechados em torno de si mesmos, e sua presença em nossos corpos era desconhecida até alguns meses atrás.
Eles foram descobertos por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, por meio de análises aprofundadas do RNA presente em centenas de amostras humanas.
Os obeliscos "colonizaram os microbiomas humano e planetário sem terem sido notados até agora", resume o estudo publicado na revista Cell.
Esta descoberta chamou a atenção devido à ampla presença dos obeliscos e sua natureza inédita, em comparação com outras estruturas identificadas por virologistas e microbiologistas.
Os obeliscos, assim chamados por causa de sua estrutura semelhante a um bastonete, podem lembrar os vírus, que normalmente são compostos de uma sequência de RNA que pode parasitar nossas células, fazendo com que elas produzam novas versões de si mesmas.
Mas se os vírus são estruturas extremamente simples em comparação às bactérias, os obeliscos são ainda mais básicos: sua sequência de RNA é mais curta e, diferentemente dos vírus, eles circulam livremente sem estar contidos em uma cápsula feita de proteínas.
Os obeliscos também podem lembrar moléculas identificadas décadas atrás, mas amplamente desconhecidas porque seu estudo se limitou principalmente a plantas: os viroides, que são cadeias de RNA não envelopadas.
- Vestígios de tempos imemoriais?-
No entanto, os obeliscos também são diferentes, neste caso porque são um pouco mais complexos. Ao contrário dos viroides, que só conseguem replicar a si mesmos, os obeliscos parecem ser capazes de controlar a produção de proteínas, assim como os vírus.
Qual função terão as proteínas chamadas "oblinas"? Não sabemos, e esta é uma das muitas questões levantadas pela descoberta dos obeliscos.
Alguns pesquisadores acreditam que eles provavelmente desempenham um papel, positivo ou negativo, em nossa saúde; caso contrário, não estariam tão presentes em nós. Mas muitos continuam cautelosos.
"Às vezes temos a visão antropocêntrica de que as coisas estão lá porque servem a um propósito para nossos corpos, mas nem sempre é esse o caso", alerta Majzoub.
"Os obeliscos estão lá porque a evolução garantiu que eles chegassem lá", acrescenta.
- Origem da vida? -
No entanto, o pesquisador observou que certas estruturas semelhantes demonstraram seus efeitos, começando com seu próprio objeto de estudo: o vírus da hepatite D, uma cadeia circular de RNA que só pode atuar como satélite em combinação com o vírus da hepatite B, mais complexo.
Outra grande questão levantada pelos obeliscos é se eles nos dão pistas sobre a origem da vida na Terra.
Para alguns especialistas, os obeliscos se juntam aos viroides para dar suporte à hipótese do "mundo do RNA": a ideia de que formas de vida muito simples baseadas em RNA existiam antes do surgimento do DNA.
O DNA constitui o nosso material genético e é através do RNA, que é muito menos estável, que nossas células o traduzem em proteínas.
Um "mundo do RNA" seria mais simples, mas também consistiria em organismos infinitamente menos complexos do que a vida como a conhecemos hoje. Segundo alguns cientistas, obeliscos e viroides podem ser "relíquias da sopa de RNA original", observou Majzoub.
Mas mesmo neste caso é preciso ser prudente. A existência de obeliscos pode apontar nessa direção, mas também é possível que eles sejam produzidos aleatoriamente por células e bactérias, em vez de serem um resquício de tempos antigos.
Seus descobridores permanecem cautelosos. "No momento, não temos ferramentas que nos permitam calcular até que ponto os obeliscos estão relacionados entre si, ou seja, qual é a sua 'idade'", disse Ivan Zheludev, principal autor do estudo, à AFP. "Eu não ousaria especular".
* AFP