A primeira das três supostas vítimas que acusam o ex-poderoso produtor de Hollywood Harvey Weinstein de estupro e agressão sexual em Nova York prestou depoimento nesta terça-feira (29), descrevendo uma relação perturbadora com o acusado, cuja queda foi um marco do movimento #MeToo.
Durante o interrogatório da promotora Nicole Blumberg, Miriam Haley, ex-assistente de produção, relatou ao júri do Tribunal Penal de Manhattan que Weinstein ora pedia massagens, ora se mostrava encantador ou insistente em suas exigências.
A sessão terminou antes de abordar o episódio de julho de 2006, quando Weinstein supostamente a forçou a ter relações sexuais em seu apartamento no bairro de luxo do SoHo, em Nova York. O depoimento continuará na quarta-feira.
Antes desse episódio, Haley, hoje com 48 anos, encontrou o então chefe dos estúdios Miramax durante uma pré-estreia em Londres, e depois marcou um encontro com ele no Festival de Cannes, na primavera de 2006.
"Estava empolgada com a oportunidade de conhecê-lo... queria ver se havia algum trabalho para mim", disse ela.
Mas logo se desiludiu quando, em um quarto do hotel Majestic, Weinstein - então um dos homens mais poderosos de Hollywood - lhe pediu uma massagem, contou.
Em seu testemunho, a acusadora afirmou que recusou, e o encontro foi breve. "Me senti humilhada", disse.
Enquanto páginas de seu diário da época passavam nas telas da sala, Haley explicou que viu Weinstein outras vezes e que, apesar de às vezes parecer "encantador", ele também insistiu muito para que ela o acompanhasse a Paris - antes do episódio que fundamenta as acusações atuais.
Ao longo do depoimento, Haley falou com calma, sem olhar diretamente para o acusado, que se desloca em cadeira de rodas por problemas de saúde e aparenta estar pálido e calvo.
Weinstein, de 73 anos, ouviu o relato quase sem reação, com o braço apoiado no encosto da cadeira.
Esta é a segunda vez que Haley presta depoimento sobre o caso, após o julgamento de 2020, que resultou na condenação de Harvey Weinstein a 23 anos de prisão.
No entanto, no ano passado, o Tribunal de Apelações de Nova York anulou esse julgamento por questões processuais - uma decisão que foi vista como um golpe ao movimento contra a violência sexual.
"É um grande sacrifício para ela (...) ter que reviver o que aconteceu há tantos anos (...) ela faz isso por uma razão: justiça", afirmou após a audiência a advogada de Haley, Gloria Allred.
* AFP