El Salvador recebeu neste domingo (16) 238 supostos membros do grupo criminoso venezuelano 'Tren de Aragua' e 23 da gangue Mara Salvatrucha, enviados pelo presidente americano, Donald Tump, após invocar uma antiga lei de guerra para expulsar migrantes.
Trump invocou a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, usada pela última vez durante a Segunda Guerra Mundial, para emitir a ordem de expulsão, mas, no sábado, um juiz federal suspendeu temporariamente a ordem, aparentemente quando os aviões já estavam a caminho de El Salvador.
"Hoje, os primeiros 238 membros da organização criminosa venezuelana 'Tren de Aragua' chegaram ao nosso país", informou, na rede social X, o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, que disse que 23 membros da Mara Salvatrucha (MS-13), incluindo dois líderes, também foram enviados.
Bukele divulgou um vídeo mostrando a operação de transferência "imediata" dos detentos para o Centro de Confinamento de Terrorismo (Cecot) em Tecoluca, 75 km a sudeste de San Salvador, onde, segundo ele, eles permanecerão por "um período de um ano (renovável)".
Em uma reunião com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em fevereiro em El Salvador, Bukele ofereceu prender em seu país "criminosos perigosos" enviados pelo governo de Trump.
Em fevereiro, os Estados Unidos incluíram o grupo criminoso 'Tren de Aragua', de origem venezuelana, em sua lista de organizações terroristas, assim como a gangue Mara Salvatrucha (MS-13), criada por salvadorenhos e outros migrantes em Los Angeles, e outros seis cartéis mexicanos.
Ao emitir a ordem de expulsão, Trump argumentou que tinha o direito de declará-los "inimigos estrangeiros" de acordo com a lei de mais de dois séculos.
- Acorrentados -
Os três aviões com os presos aterrissaram na madrugada no Aeroporto Internacional de El Salvador.
Nos vídeos divulgados pelo governo salvadorenho, vê-se os militares retirando os detidos das aeronaves, todos algemados, e os colocando em ônibus para serem levados ao Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot).
Ao chegarem à prisão, os detentos foram obrigados a se ajoelhar enquanto diziam seus nomes aos agentes penitenciários, que então rasparam suas cabeças. O vídeo também mostrou os presos sendo levados para as celas, vestindo apenas bermudas, camisetas e meias brancas.
"Estamos ajudando nossos aliados, tornando nosso sistema penitenciário autossustentável", declarou Nayib Bukele no X, destacando que "os Estados Unidos pagarão uma tarifa muito baixa por eles, mas alta para El Salvador".
O Cecot é a prisão de segurança máxima construída pelo governo Bukele como parte de sua "guerra" contra as gangues, lançada há quase três anos e criticada por grupos de direitos humanos, pois os encarceramentos ocorrem sem mandado judicial e milhares de inocentes foram detidos.
O criminologista salvadorenho Misael Rivas afirmou que, para Bukele, essa é uma oportunidade de demonstrar sua "capacidade de ajudar" um "parceiro importante". "Os presos não vêm para passear, estarão sob um regime severo", declarou à AFP.
Considerada a maior prisão da América Latina, o Cecot foi inaugurado em 31 de janeiro de 2023. Sua capacidade é de 40 mil detentos, mas, até o momento, abrigava cerca de 15 mil membros da MS-13 e da gangue rival Barrio 18.
"É um grande negócio para Bukele. Ele vai lucrar com os Estados Unidos alugando o Cecot, sem prestar contas a ninguém e sem ter uma lei que o respalde", afirmou à AFP Ingrid Escobar, diretora da ONG Socorro Jurídico Humanitário.
Em sua conta no X, o senador republicano Marco Rubio também mencionou o envio de 23 membros da MS-13 e mais de 250 estrangeiros ligados ao Tren de Aragua para El Salvador. No entanto, esse número difere do anunciado por Bukele.
O 'Tren de Aragua' foi formado em 2014 na prisão de Tocorón, na Venezuela, no estado de Aragua, no centro-norte do país. A organização está ligada a assassinatos, sequestros, roubos, venda de drogas, prostituição, extorsão e tráfico de pessoas.
Suas atividades se expandiram para vários países da America Latina como Colômbia, Chile e Peru, e até mesmo para os EUA, de acordo com vários relatórios de inteligência.
Três países da América Central - Guatemala, Panamá e Costa Rica - concordaram em servir de "ponte" para os migrantes deportados por Washington, mas El Salvador é o único que aceita prisioneiros.
* AFP