
O papa Francisco, 88 anos, hospitalizado em Roma há quase um mês, comemora o seu 12º ano como líder da Igreja Católica nesta quinta-feira (13). O Vaticano informou na quarta-feira (12) que o pontífice, internado para tratar uma pneumonia, não corre mais risco de vida e que sua alta é considerada, ainda que não haja previsão de quando acontecerá.
Nesta quinta, o Vaticano voltou a indicar que Francisco passou "uma noite tranquila".
Ao longo de seu papado, o argentino Jorge Bergoglio enfrentou forte oposição interna em diversos momentos. Relembre a seguir as principais medidas adotadas desde a sua eleição.
Luta contra a pedofilia na Igreja
A proliferação de escândalos envolvendo agressão sexual de menores dentro da Igreja, da Irlanda à Alemanha, dos Estados Unidos ao Chile, tem sido um dos seus desafios mais dolorosos. Após uma viagem polêmica ao Chile em 2018, que terminou em uma série de renúncias e expulsões de pessoas de alto escalão, o argentino se desculpou publicamente por ter defendido erroneamente um bispo.
Em 2019, ele expulsou o cardeal americano Theodore McCarrick, que havia sido condenado por abuso sexual de menores. Um gesto notável com o qual ele aplicou a linha de "tolerância zero".
No mesmo ano, uma cúpula sem precedentes sobre a proteção de menores realizada no Vaticano levou a uma série de medidas concretas, incluindo a eliminação do segredo pontifício sobre tais crimes, a obrigação de religiosos e leigos denunciarem qualquer caso à sua hierarquia e a criação de plataformas de escuta em dioceses ao redor do mundo. No entanto, o selo da confissão permaneceu inquebrável.

Diplomacia e periferias
Em suas 47 viagens ao Exterior, Jorge Mario Bergoglio procurou visitar, acima de tudo, as "periferias do mundo", especialmente os países marginalizados da Europa Oriental, América Latina e África.
O primeiro papa latino-americano é um firme defensor do multilateralismo e denuncia constantemente a guerra e o comércio de armas. Além disso, ele defende o diálogo com todas as religiões, especialmente o islamismo, como demonstrou uma visita histórica ao Iraque em 2021.
Ele também chegou a um acordo sem precedentes com o regime comunista da China em 2018 sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos naquele país. A diplomacia da Santa Sé também trabalhou pela reaproximação histórica entre Cuba e os Estados Unidos em 2014 e apoiou o processo de paz na Colômbia.
A Igreja de Francisco se envolveu em vários conflitos regionais na América Latina e na África. Entretanto, no caso da guerra na Ucrânia, que começou com a invasão russa em fevereiro de 2022, ela não conseguiu prevalecer.
Esse conflito também interrompeu a reaproximação gradual com o patriarca ortodoxo russo Cirilo I, com quem ele realizou um encontro histórico em 2016, o primeiro entre os líderes das igrejas oriental e ocidental desde o cisma de 1054.
Migrações, meio ambiente e comunidade LGBT+
Francisco defende uma Igreja aberta a todos e tem aumentado os seus gestos em relação aos divorciados recasados e aos fiéis LGBT+. No final de 2023, ele autorizou bênçãos para casais do mesmo sexo, uma decisão que gerou oposição de setores conservadores na África e nos Estados Unidos.
Da ilha italiana de Lampedusa ao acampamento grego de Lesbos, o pontífice argentino defendeu os migrantes e pediu que eles sejam acolhidos sem distinção, pois fogem da guerra e da pobreza. Dias antes de sua hospitalização em fevereiro, o Papa disse que as deportações de imigrantes ilegais nos Estados Unidos de Donald Trump "feriam a dignidade" das pessoas.
Em sua encíclica Laudato Si (2015), ele apelou para uma "revolução verde" e criticou o "uso irresponsável dos bens que Deus disponibilizou" na Terra, defendendo a "ecologia integral". Em 2020, ele escreveu uma exortação em defesa da Amazônia tendo consultado todos os líderes religiosos e indígenas daquele vasto território no Vaticano, após introduzir o que chamou de "pecado ecológico".
Reformas
O papa Francisco buscou implementar uma reforma profunda da Cúria Romana — o governo central da Igreja — para fortalecer o processo de escuta das igrejas locais e dar mais espaço aos leigos e às mulheres. Essas mudanças, algumas das quais foram criticadas internamente, foram implementadas com a entrada em vigor em 2022 de uma nova Constituição, que reorganizou os dicastérios, ou seja, os ministérios, e deu prioridade à evangelização.
Francisco também reformulou o obscuro e escandaloso setor financeiro do Vaticano com a criação de uma Secretaria para a Economia em 2014. Uma estrutura de investimento foi implementada, medidas anticorrupção foram tomadas e o Banco do Vaticano recebeu ordem de reorganização, com o fechamento de 5 mil contas.
O Papa também revolucionou o Sínodo, uma reunião global de bispos, ao incluir mulheres e leigos pela primeira vez. Mas essas reformas lhe renderam críticas sem precedentes vindas de dentro, especialmente quando ele restringiu o uso da missa em latim em 2021, irritando o campo mais tradicionalista.