O G7 alertou, nesta sexta-feira (14), à Rússia que imporá novas sanções a menos que aceite um cessar-fogo com a Ucrânia, em uma forte demonstração de unidade depois que o presidente Donald Trump abalou o grupo das sete democracias mais desenvolvidas do planeta.
Reunidos em um hotel na área rural de Quebec, os ministros das Relações Exteriores do G7 também manifestaram seu "apoio inabalável" à "integridade territorial" da Ucrânia, e se referiram à "agressão" da Rússia, um termo que Trump havia evitado em sua aproximação com Moscou.
O consenso sobre a Ucrânia ocorreu apesar da crescente tensão que o retorno de Trump gerou dentro do G7, integrado por Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos. As fissuras se dão por causa das tarifas que Trump anunciou contra parceiros e rivais, e por seus reiterados questionamentos à soberania do Canadá, anfitrião do encontro.
Em uma declaração conjunta, os países apoiaram uma trégua de 30 dias proposta pelos Estados Unidos e aceita por Kiev, e "pediram à Rússia que retribua o gesto, aceitando um cessar-fogo em termos de igualdade e o implementando plenamente".
"Discutiram a imposição de novos custos para a Rússia caso esse cessar-fogo não seja alcançado, incluindo novas sanções, limites ao preço do petróleo, bem como apoio adicional à Ucrânia, e outras medidas", como o uso de ativos russos congelados.
O grupo também destacou a "necessidade de acordos de segurança sólidos e confiáveis para garantir que a Ucrânia possa dissuadir e se defender de qualquer novo ato de agressão".
Os países não entraram em detalhes, e Trump fechou as portas para a admissão da Ucrânia na Otan, uma ideia que o presidente russo Vladimir Putin detesta.
O secretário de Estado americano Marco Rubio disse aos jornalistas que Trump não queria impor novas sanções à Rússia, mas que os "Estados Unidos contam com essas opções" se necessário.
Rubio elogiou o trabalho diplomático liderado pelos Estados Unidos nos últimos dias e disse que "há motivos para ser cautelosamente otimista", embora ainda "haja muito trabalho a ser feito".
Trump, que voltou à Casa Branca em janeiro, incomodou seus aliados ao retomar o diálogo com Putin, suspender brevemente a ajuda financeira e de inteligência que os Estados Unidos fornecem à Ucrânia, fundamental para Kiev desde a invasão russa há três anos.
Mas o panorama mudou radicalmente na terça-feira quando Rubio e o assessor de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, se reuniram com funcionários ucranianos na Arábia Saudita.
A Ucrânia, que tenta retomar as boas relações com Washington depois de uma visita desastrosa do presidente Volodimir Zelensky à Casa Branca, recebeu de bom grado a proposta dos Estados Unidos de uma trégua de 30 dias, que depois um enviado de Trump apresentou a Moscou.
Putin mostrou-se favorável a uma trégua na quinta-feira, mas pediu mais esclarecimentos, o que lhe rendeu acusações de Alemanha e Ucrânia de que estaria tentando ganhar tempo.
- 'Forte unidade' -
Apesar das constantes provocações de Trump ao Canadá, Rubio elogiou a ministra das Relações Exteriores canadense, Mélanie Joly, por seu "excelente trabalho" ao conseguir uma "declaração contundente" do G7.
O ministro britânico David Lammy aplaudiu a "unidade". "Agora é hora de um cessar-fogo sem condições."
"Acredito que está surgindo uma coalizão de vontades para dar à Ucrânia a arquitetura e os mecanismos de segurança dos quais necessita", declarou Lammy em entrevista à AFP.
A chanceler canadense também expressou sua satisfação pela "forte unidade do G7".
"Agora, a bola está com a Rússia", afirmou Joly.
A ministra, no entanto, afirmou que persistem divisões em torno das tarifas lançadas por Trump.
E que buscou solidariedade entre seus colegas diante da atitude de Trump contra o Canadá.
O republicano tem dito com frequência que o país vizinho deveria se tornar o 51º estado dos Estados Unidos, e na quinta-feira brincou dizendo que o hino nacional "O Canadá" soaria bem como hino estadual.
Seus pares no G7 receberam as declarações de Trump "com humor", disse Joly.
"Mas eu disse a eles: isso não é uma piada. Os canadenses estão preocupados. Os canadenses são pessoas orgulhosas, e vocês estão em um país soberano", afirmou.
- Gaza -
A declaração do G7 também pede para que se alcance um cessar-fogo permanente em Gaza e que o fornecimento de ajuda humanitária no território palestino seja retomado "sem obstáculos", depois que Israel suspendeu a entrada de insumos e cortou a eletricidade para pressionar o Hamas.
Isso é visto como uma concessão por parte do governo Trump, que apoia firmemente Israel e não criticou tais medidas, apesar do potencial impacto sobre os civis.
* AFP