A tartaruga-comum utiliza o campo magnético da Terra para criar um mapa pessoal de seus lugares favoritos, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (12), em mais uma demonstração da vasta capacidade dos animais migratórios de se orientar.
Alguns dos que percorrem longas distâncias ao redor do globo, como aves, salmões, lagostas e tartarugas marinhas, são conhecidos por navegar utilizando as linhas do campo magnético que cruzam a Terra do polo norte ao polo sul.
Os cientistas sabiam que os animais usavam essas informações magnéticas como uma bússola para determinar onde estavam.
Agora, essas novas pistas indicam cada vez mais que tartarugas marinhas, como a comum (Caretta caretta), conhecidas em todos os oceanos do planeta, também são capazes de traçar um mapa magnético completo, com seus lugares prediletos para nidificação ou alimentação.
Significa dizer que os animais migratórios "aprendem as coordenadas magnéticas do destino", como se tivessem um GPS, de acordo com um estudo na revista Nature dirigido por Kayla Goforth, da Universidade da Carolina do Norte.
A pesquisa fornece a primeira "evidência direta de que um animal pode aprender e lembrar as coordenadas magnéticas naturais de uma área geográfica".
Exatamente como eles conseguem fazer isso ainda é um mistério.
Os pesquisadores descobriram que o talento das tartarugas para fazer mapas é independente de sua bússola interna, o que sugere que as duas formas de "magnetorrecepção" funcionam de maneiras diferentes.
Para o experimento, os cientistas colocaram jovens tartarugas-comuns em um tanque cercado por uma bobina magnética que replicava o campo magnético do Oceano Atlântico.
- "Dança da tartaruga" -
Durante dois meses, os cientistas alteraram o campo magnético do tanque a cada dia, replicando as condições entre a costa dos Estados Unidos e o Golfo do México.
No entanto, as tartarugas só eram alimentadas quando recebiam informações magnéticas de uma das áreas.
Quando as tartarugas antecipavam que haveria comida, agitavam suas nadadeiras, abriam a boca e giravam em círculos na água.
Os pesquisadores filmaram esse comportamento, que chamaram de "dança da tartaruga".
As tartarugas dançavam com mais entusiasmo no tanque onde sabiam que haveria comida, uma "evidência clara" de que as tartarugas podem aprender as assinaturas magnéticas de "áreas geográficas específicas", disseram os pesquisadores.
Até quatro meses depois, ao serem testadas novamente, as tartarugas ainda sabiam onde deveriam dançar.
Ninguém sabe exatamente como os animais sintonizam essa informação magnética.
Uma teoria é que alguns podem detectar a influência do campo magnético quando ocorre uma reação química entre moléculas sensíveis à luz.
Mas quando os pesquisadores tentaram interferir nesse processo utilizando o que se chama de campos de radiofrequência, as tartarugas continuaram dançando no mesmo lugar, sem alterar seu comportamento.
Um experimento separado que testou as bússolas internas das tartarugas foi mais esclarecedor.
Em um tanque que replicava as condições magnéticas do arquipélago de Cabo Verde, na África Ocidental, as emissões de radiofrequência pareciam desorientar as bússolas das tartarugas, enviando-as em direções aleatórias.
Os pesquisadores concluíram que "uma hipótese razoável de trabalho é que o sentido da bússola depende da magnetorrecepção química, enquanto o sentido do mapa depende de um mecanismo alternativo".
Essa hipótese é respaldada por indícios de que outros animais migratórios, como aves e anfíbios, também podem ter receptores duais de campos magnéticos.
* AFP