O sírio que foi preso na sexta-feira por suspeita de ferir um turista espanhol durante um ataque no Memorial do Holocausto em Berlim queria "matar judeus", informaram a polícia e o Ministério Público neste sábado (22), véspera das eleições gerais na Alemanha.
O suspeito, de 19 anos, tinha manchas de sangue nas mãos e carregava uma cópia do Alcorão, o livro sagrado do Islã, assim como um tapete de oração, indicaram as autoridades.
As primeiras investigações, acrescentaram, sugerem que o ataque teve relação "com o conflito no Oriente Médio". A agressão chocou a Alemanha apenas dois dias antes das eleições gerais, após uma campanha centrada em temas como migração e segurança.
Vários ataques com faca e atropelamentos múltiplos atribuídos a imigrantes ocorreram nas últimas semanas,alimentando um clima de tensão antes do pleito.
A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, condenou o "crime abominável e brutal" de sexta-feira. "Devemos supor uma motivação antissemita", acrescentou.
O suspeito "deve ser punido com todo o rigor da lei e expulso diretamente da prisão", afirmou em um comunicado. "Usaremos todos os meios para deportar os criminosos violentos de volta à Síria", continuou.
- Crimes menores -
O ataque ocorreu no Memorial do Holocausto, localizado perto da embaixada dos Estados Unidos e inaugurado em 2005 para homenagear os milhões de judeus assassinados pelos nazistas durante o Terceiro Reich.
A Alemanha está cada vez mais alarmada com o aumento do antissemitismo desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza.
Em 2023, o país registrou o número recorde de 5.164 crimes antissemitas, frente a 2.641 do ano anterior, segundo a agência nacional de inteligência.
O Ministério Público e a polícia informaram que o suspeito chegou à Alemanha em 2023 como menor não acompanhado. Ele tinha asilo e residia legalmente em Leipzig, no leste do país.
Martin Strunden, porta-voz do Ministério do Interior da Saxônia, onde fica Leipzig, disse que a polícia conhecia o suspeito por crimes menores e que ele estava vivendo em abrigos para refugiados.
A vítima, de 30 anos e originária de Bilbao, no País Basco, ficou gravemente ferida com lesões no pescoço e precisou passar por uma operação de emergência que lhe salvou a vida, segundo os investigadores.
Um representante das forças de segurança do governo do País Basco, Bingen Zupiria, afirmou que "entende-se a escolha da vítima como indiscriminada".
O ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel Albares, escreveu na rede social X que estava "acompanhando de perto a evolução do cidadão espanhol esfaqueado em Berlim".
- Avanço da extrema direita -
O líder da aliança conservadora CDU/CSU, Friedrich Merz, é o favorito para suceder o atual chefe de Governo, o social-democrata Olaf Scholz.
As últimas pesquisas atribuem um resultado próximo de 30% à CDU/CSU, logo à frente do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que pode dobrar os resultados obtidos nas últimas eleições legislativas e alcançar cerca de 20% dos votos.
Os recentes ataques ocorridos no país levaram Merz a prometer uma revisão "fundamental" das normas de asilo alemãs.
* AFP