O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, busca nesta quarta-feira (5) cooperação em matéria de migração na Guatemala, cujo presidente, Bernardo Arévalo, espera apoio da nova administração americana para se manter firme no poder.
Em sua primeira viagem à América Latina como secretário de Estado americano, Rubio se reúne nesta quarta com Arévalo, com quem jantou na terça-feira no centro histórico da Cidade da Guatemala.
Ex-senador, Rubio é um cubano-americano e feroz opositor dos esquerdistas latino-americanos, tendo buscado em seu novo cargo fortalecer as relações dos Estados Unidos com os conservadores da região.
Uma exceção é a Guatemala, onde o presidente social-democrata não é ideologicamente alinhado, mas tem se esforçado para evitar desgastes com o novo governo de Donald Trump.
Arévalo, sociólogo e ex-diplomata nascido no exílio após um golpe de Estado apoiado por Washington em 1954, é filho de um ex-presidente e conseguiu uma vitória surpreendente em 2023, tendo como bandeira a luta contra a corrupção em um dos países mais pobres da região.
A promessa o colocou em confronto imediato com a oposição da elitista e arraigada elite conservadora guatemalteca, que tentou impedir sua posse.
Os partidos de direita denunciaram fraude eleitoral, sem apresentar provas, e encontraram o apoio de partidários de Trump. Arévalo, no entanto, contou com o respaldo do governo anterior do democrata Joe Biden.
- Aliado "extraordinário" -
Desde o retorno de Trump à Casa Branca, Arévalo tem evitado atritos sobre a política de deportações em massa de migrantes.
A Guatemala aceitou rapidamente voos militares com cidadãos deportados, algemados e transportados em aviões militares, ao contrário da Colômbia, cujo líder de esquerda defendeu um tratamento melhor, mas voltou atrás após Trump ameaçar com represálias.
O governo de Arévalo "em duas semanas se mostrou um aliado extraordinário, particularmente em nos ajudar a lidar com questões migratórias", disse Mauricio Claver-Carone, enviado especial dos Estados Unidos para a América Latina.
A Guatemala também agrada à administração de Trump por ser o país mais populoso a ainda reconhecer a soberania de Taiwan, a ilha de governo democrático que a China reivindica como parte de seu território.
Rubio, em visita na terça-feira à Costa Rica, que rompeu com Taiwan e reconheceu a China em 2007, prometeu apoiar as nações latino-americanas em sua luta contra a influência chinesa.
No domingo, na capital panamenha, onde iniciou seu giro, Rubio alertou o governo de que é necessário reduzir a influência chinesa no estratégico Canal do Panamá.
- Deportações; nada de ajuda -
A Guatemala é uma das maiores fontes de migração para os Estados Unidos após décadas de pobreza, violência e instabilidade política.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do país da América Central cerca de 3,2 milhões de guatemaltecos vivem nos Estados Unidos, sendo que centenas de milhares de forma irregular.
Os Estados Unidos, sob administrações anteriores, tentaram abordar as causas profundas da migração por meio de apoio direto.
A viagem do secretário de Estado foi ofuscada pelas medidas adotadas em Washington por Trump, incluindo o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), da qual Rubio é agora o chefe interino.
A Usaid, cujos funcionários em todo o mundo estão sendo enviados de volta para casa após a decisão de Trump, executou cerca de 178 milhões de dólares (pouco mais de R$ 1 bilhão na cotação atual) em projetos na Guatemala em 2023.
Outra fonte de migração é El Salvador, cujo popular presidente Nayib Bukele tem cortejado fortemente a administração Trump.
Ao se reunir com Rubio na segunda-feira, Bukele ofereceu aceitar prisioneiros dos Estados Unidos, migrantes ou criminosos americanos, em uma externalização do sistema penitenciário sem precedentes recentes em um país democrático.
Bukele conseguiu reduzir a criminalidade por meio de prisões em massa sem mandados judiciais, o que foi criticado por grupos de direitos humanos por penalizar inocentes.
No final desta quarta-feira, Rubio viajará para a República Dominicana, cujo presidente, Luis Abinader, defende uma linha dura ao estilo de Trump no cronicamente instável e empobrecido vizinho Haiti, incluindo o início das obras de construção de um muro e o aumento das deportações.
* AFP