
O presidente americano, Donald Trump, deu uma guinada em sua guerra comercial nesta quarta-feira (9), ao anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas aplicadas para diversos países. A exceção é a China, que terá taxa de 125% em resposta à retaliação de Pequim.
— É preciso ser flexível — justificou o republicano a jornalistas na Casa Branca.
Ele reconheceu também que seu anúncio de uma ofensiva tarifária generalizada na semana passada "assustou um pouco" os investidores e os deixou "febris".
Após a pausa anunciada nesta quarta, a bolsa de Wall Street disparou (Dow Jones +7,9%, S&P 500 +9,5% e Nasdaq +12,2%). O preço do petróleo, deprimido pelo risco de recessão, começou a subir. No Brasil, o dólar atingiu R$ 6,09 durante a tarde, mas recuou 2,54% e fechou cotado a R$ 5,84.
O presidente brasileiro em exercício, Geraldo Alckmin, disse que priorizará o diálogo e que o país trabalhará para tentar reduzir a alíquota mínima.
Durante discurso na 9ª Cúpula da Celac, em Tegucigalpa, Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a aplicação de tarifas arbitrárias, mas não citou os Estados Unidos.
— Tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional e elevam preço. A história nos ensina que guerras comerciais não tem vencedores — afirmou.
Temor com impactos na economia
A guerra comercial mundial gera temores de aumento da inflação, queda no consumo e no crescimento.
Ela poderia reduzir o comércio de bens entre as duas maiores economias do mundo "em até 80%" e eliminar "quase 7%" do PIB global a longo prazo, alertou nesta quarta-feira a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.
Além disso, não está descartada uma escalada diplomática entre China e Estados Unidos, cuja relação já é tensa.
Pequim instou nesta quarta-feira seus cidadãos a tomarem precauções extremas caso viajem aos Estados Unidos.
Trump chama tarifas chinesas de "falta de respeito"
Durante a manhã, em sua plataforma Truth Social, Trump acusou a China do que considera uma "falta de respeito" e puniu o país com tarifas alfandegárias de 125%, "com efeito imediato".
Mais tarde, Trump disse que "não imagina" ter que aumentar novamente as tarifas.
— Não acho que seja necessário. Calculamos com muita precisão — disse.
Horas depois de zombar de seus parceiros comerciais, dizendo que estavam "lhe beijando o traseiro" para negociar acordos "sob medida", Trump recuou parcialmente.
Como mais de 75 países solicitaram negociações, ele autorizou "uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida durante esse período, de 10%, também com efeito imediato". Ele os premiou por, segundo ele, não terem retaliado.
Isso significa que mantém o imposto universal de 10% que entrou em vigor no sábado (5), no qual já estavam incluídos a maioria dos países latino-americanos, e do qual ficam excluídos Belarus, Cuba, Coreia do Norte e Rússia.
Canadá e México também estão sujeitos a um regime especial que implica tarifas de 25% (10% para os hidrocarbonetos canadenses), exceto para os produtos contemplados no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC).
No entanto, ninguém escapa dos tributos anteriormente impostos sobre o alumínio, o aço e os automóveis.
Em entrevista coletiva na Casa Branca, após o anúncio da pausa, Trump elogiou o presidente chinês, Xi Jinping, chamando-o de "uma das pessoas mais inteligentes do mundo".
— Gosto muito dele, o respeito muito — disse.
Além disso, descartou que o conflito possa evoluir para além da questão comercial.
"Estratégia"
Horas antes da reviravolta, o presidente havia aconselhado aproveitar a queda das bolsas para "comprar" ações, mas não havia explicado o motivo.
As pesquisas mostram uma crescente desconfiança dos norte-americanos em relação ao seu presidente. No sábado (5), protestos foram realizados em diversos cidades do país contrários às medidas de Trump. Seus apoiadores, no entanto, tentaram defendê-lo.
— Essa foi a estratégia dele desde o início — afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, sobre o presidente, que aposta nas tarifas para reduzir o déficit comercial, equilibrar as contas públicas e relocalizar diversas atividades industriais.
Um de seus assessores mais próximos, Stephen Miller, elogiou a "estratégia magistral" e a "ousadia" de Donald Trump, que, segundo ele, tiveram como efeito "isolar" Pequim.
Respostas
O republicano gerou pânico no mundo inteiro ao anunciar, há uma semana, tarifas alfandegárias adicionais sobre produtos de parceiros comerciais. A China foi a mais atingida, com um aumento de 104%, que acabou ficando em 124%.
O país asiático respondeu anunciando que aumentará suas tarifas alfandegárias sobre produtos dos Estados Unidos para 84%, em vez dos 34% inicialmente previstos, a partir de quinta-feira às 04h01 GMT (01h01 em Brasília).
A União Europeia adotou nesta quarta-feira suas primeiras retaliações contra mais de 20 bilhões de euros (R$ 133,7 bilhões) em bens "fabricados nos Estados Unidos".
A lista inclui produtos agrícolas como soja, aves e arroz. Também prevê sobretaxas de até 25% sobre madeira, motocicletas, produtos de plástico e equipamentos elétricos.
Riscos para o comércio
Mas Bruxelas disse estar disposta a suspender as medidas "a qualquer momento" se alcançar um acordo "justo e equilibrado" com Washington.
Resta saber como Pequim reagirá ao ataque de Donald Trump, que assegurou que a China "quer" um acordo, mas não "sabe muito bem como fazê-lo".