
O governo de Javier Milei anunciou a saída da Argentina da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira (5). A decisão da Casa Rosada segue os passos da Casa Branca. Nas primeiras horas após a posse, em 20 de janeiro, Donald Trump também retirou os Estados Unidos da instituição.
Em outra ação parecida com a de Trump, Milei comentou a decisão nas redes sociais com um vocabulário não usual para líderes de Estado. "Fora OMS !!! Viva a liberdade, carajo", postou o argentino no X (antigo Twitter). Os argumentos de Milei para a saída da OMS ecoam os de Trump: críticas à gestão da organização durante a pandemia.
Mas as semelhanças entre Milei e Trump não são novas. Desde que entrou para a corrida presidencial, Milei é comparado a Trump nas abordagens políticas, econômicas e de comunicação, que ficam ainda mais evidentes graças ao visual excêntrico, atitudes irreverentes e uma postura de "fora do sistema" que ambos compartilham.
A semelhança das atitudes também pode ser observada em áreas que vão da pauta ambiental ao apoio a Israel.
Negacionismo climático
Assim como Trump, que insistiu na frase "Drill, baby, drill!" ("Perfure, baby, perfure!") para promover a exploração de petróleo, Milei é um cético em relação ao aquecimento global e em sua campanha presidencial disse que "políticas que culpam os humanos pela mudança climática são falsas".
Após a reeleição de Trump em novembro, a Argentina se retirou das negociações climáticas da ONU no Azerbaijão, levantando temores de que Milei pudesse seguir o presidente norte-americano e se retirar do Acordo de Paris, sobre redução de emissões de carbono, entrando para o seleto grupo de Eritreia, Líbia, Iêmen, Irã e Iraque.
Isso coincidiu com a visita de Milei a Trump em sua residência em Mar-a-Lago, a primeira de um líder estrangeiro ao republicano desde sua vitória eleitoral.
Milei, no entanto, assinou uma declaração dos líderes do G20 na cúpula do Rio no final de novembro, reconhecendo a necessidade de "aumentar substancialmente o financiamento climático".
Guerra à "cultura woke"
Assim como Trump, Milei se manifestou contra a chamada "ideologia woke", com agenda progressista. No Fórum Econômico Mundial em Davos, o argentino disse que "é a grande epidemia do nosso tempo (...) o câncer que deve ser removido".
Também criticou o que chama de "ideologia de gênero", dizendo que suas "versões mais extremas" constituem "abuso infantil".
Ele também proibiu a linguagem inclusiva de gênero em órgãos estatais e seu governo trabalha em um projeto de lei para proibir que o gênero seja registrado em documentos de identidade como "X".
Em sua posse em 20 de janeiro, Trump também disse que seu governo reconheceria apenas dois gêneros: masculino e feminino.
Também restringiu os procedimentos de transição de gênero para menores de 19 anos e proibiu pessoas transgênero de ingressarem no Exército.
Loucos por Musk
Milei e Trump compartilham uma profunda admiração pelo bilionário Elon Musk, chamado de "Thomas Edison do século XXI" por Milei.
Trump deu ao proprietário da Tesla e da SpaceX poderes extraordinários como chefe de um novo departamento encarregado de cortar gastos federais.
Mas os elogios não ficaram só do lado dos presidentes. Musk defendeu a "motosserra" de Milei em sua política econômica e declarou que a Argentina "vive um enorme progresso" desde que Milei se tornou presidente.
Ataques nas redes sociais
Tanto Trump quanto Milei foram acusados de fomentar discurso de ódio e intolerância ao insultar críticos e opositores nas redes sociais.
Assim como Trump, o argentino também chama a imprensa e os críticos de "corruptos", uma linguagem que lembra a promessa de Trump em seu primeiro governo de "drenar o pântano", sua expressão para acabar com as elites de Washington.
Apoio ferrenho a Israel
Milei demonstrou um profundo interesse pelo judaísmo, estudou as escrituras de sua religião e é um ferrenho defensor de Israel.
Durante uma visita a Israel no ano passado, anunciou planos de transferir a embaixada da Argentina de Tel Aviv para Jerusalém, ecoando a decisão de Trump em 2017 de reconhecer Jerusalém como a capital.
Ele também comparou o ataque do Hamas em solo israelense em 7 de outubro de 2023 ao Holocausto.