Diante dos recentes anúncios de gigantes da tecnologia dos EUA, como o X e a Meta, alinhados com Donald Trump, a UE tem o desafio de demonstrar que possui as ferramentas legais e políticas para se defender.
Mediante duas ferramentas, a lei de Mercados Digitais e a de Serviços Digitais, a UE conta, desde 2024, com um importante arsenal para frear os abusos de poder e a difusão de conteúdos ilegais de desinformação.
No entanto, após a eleição de Donald Trump para um novo mandato nos EUA, a UE tem optado por se mostrar cautelosa no enfrentamento de grandes grupos tecnológicos americanos.
Inicialmente, foi o bilionário Elon Musk, proprietário da rede X e futuro ministro de Trump, que lançou ataques virulentos contra os líderes europeus.
Mark Zuckerberg, proprietário da Meta (Facebook e Intagram), juntou-se a ele ao sugerir que a legislação europeia equivale a "censura".
O próprio Trump também se manifestou ao ameaçar a Dinamarca, que faz parte da UE, quando, na última terça-feira, não descartou a possibilidade de uma ação militar para anexar a ilha da Groenlândia.
Nesta quarta-feira (8), a Comissão saiu de seu silêncio inicial para reagir timidamente. Por um lado, ela negou qualquer ideia de censura da UE e, por outro, limitou-se a comentar que as ameaças de Trump à Groenlândia são muito "hipotéticas".
Em um aberto desafio à UE, Musk tem em sua agenda para a próxima quinta-feira uma conversa online com a líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), apenas um mês antes das eleições legislativas no país.
Perante esta situação, o chefe da diplomacia da França, Jean-Noël Barrot, disse que a UE deve "acordar" e reagir para defender os países do bloco com mais firmeza.
Caso a UE não o faça, disse ele, será necessário devolver aos próprios países do bloco a capacidade de reagir.
Por sua vez, o chefe do governo da Espanha, Pedro Sánchez, apontou que Musk (que ele não identificou pelo nome) estava atacando "abertamente" as instituições, além de despertar o "ódio".
Sánchez disse que "o homem mais rico do planeta" lidera uma "internacional reacionária" que "ataca abertamente nossas instituições, incita ao ódio e pede abertamente apoio aos herdeiros do nazismo na Alemanha nas próximas eleições".
- "Proteger nossas democracias" -
A cautela da Comissão contrasta com a agressividade que mostrou em dezembro com a rede TikTok, de origem chinesa, contra a qual abriu uma investigação por supostamente permitir desinformação durante eleições na Romênia.
"Devemos proteger nossas democracias de todas as formas de interferência estrangeira", declarou a então presidente da Comissão, Úsula von der Leyen, ao anunciar a investigação.
"Não queremos confrontar de frente Trump e Musk porque temos medo das reações", comentou Alexandre de Streel, especialista em legislação digital no Think Tanl Cerre.
O diretor-geral da entidade Repórteres sem Fronteiras (RSF), Thibaut Bruttin, defendeu o empenho da UE de regulamentar a operação das plataformas digitais.
"A promoção da verdade não é uma censura e a regulamentação democrática não é um obstáculo ilegítimo", disse Bruttin.
Na opinião de Bruttin, "Zuckerberg segue o movimento iniciado por Musk no X e jura fidelidade à ideologia de Trump, enterrando o jornalismo em favor de uma concepção absolutista da liberdade de expressão".
Para Umberto Gambini, da consultora Foward Global, se a Comissão abre agora uma investigação contra Musk, "colocaria mais lenha na fogueira" ainda.
De acordo com várias fontes, o gabinete de Von der Leyen congelou recentemente o anúncio de uma multa contra a Apple por práticas anticompetitivas para não prejudicar as relações com os Estados Unidos.
* AFP