Um dia após autoridades internacionais anunciarem cessar-fogo no conflito em Gaza, Israel acusou o Hamas de mudar termos do acordo e recuou nas negociações.
Nesta quinta (16), em entrevista à Rádio Gaúcha, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, Rubens Barbosa, afirmou que, desde o anúncio do cessar-fogo, sentiu falta de uma manifestação oficial do governo israelense sobre o tema.
— Não houve uma manifestação oficial por parte de Israel, apenas dos americanos, do Catar e declarações do Hamas. Para o Netanyahu (Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense) este acordo é muito difícil, ele sempre foi contra, porque o equilíbrio político de Israel depende da presença de radicais no governo — afirmou Barbosa ao programa Gaúcha Atualidade.
Veja trecho da entrevista:
Barbosa explica que Netanyahu seria contrário ao acordo de paz porque poderia ser obrigado a deixar o poder se aceitasse a trégua no conflito com o Hamas, em razão da pressão de dois ministros extremistas que são favoráveis à guerra.
— Tem dois ministros que são ultraortodoxos, não querem a paz. Se esses ministros saírem, ele (Netanyahu) cai. Então está havendo essa dificuldade. Para mim não surpreende — completou Barbosa.
Apesar da pressão interna sobre Netanyahu, o diplomata acredita que o primeiro-ministro deve ceder e aceitar o acordo para evitar tensão com outros países, especialmente os Estados Unidos. Ele cita que haverá "desmoralização" de Joe Biden e Donald Trump caso Israel não aceite o cessar-fogo, já que ambos anunciaram a trégua na quarta-feira.
— Eu acho muito difícil (Israel não ceder ao acordo). Seria uma desmoralização para o Biden e para o Trump. Por isso, sobretudo por causa do envolvimento americano, acho muito difícil que o Netanyahu consiga sozinho impedir que esse acordo avance — disse.
— Eu acho que vai haver, entre hoje (quinta-feira) e domingo, pressão muito forte sobre o Netanyahu para que Israel aceite o acordo — projetou.
Apesar de acusar o Hamas de alterar pontos do acordo, o primeiro-ministro israelense não esclareceu o que foi mudado. Para Barbosa, as pendências podem ter relação com o número de prisioneiros palestinos a serem liberados por Israel.
Paz no Oriente Médio
Mesmo com um cessar-fogo entre Israel e Hamas, Rubens Barbosa alerta que é necessário um acordo mais amplo, para evitar novos conflitos e guerras no Oriente Médio.
Um dos pontos que o diplomata cita é o controle da Faixa de Gaza após o cessar-fogo. Segundo ele, é preciso reformular a autoridade palestina para que o Hamas não volte a comandar a região.
— A paz lá na região do Líbano, da Palestina, passa pelo fim do financiamento desses grupos radicais (como o Hamas).
Barbosa ainda aponta a necessidade de um esforço internacional para construir áreas destruídas pela guerra:
— Só a limpeza daquela área vocês imaginem o tempo que vai levar.