A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou nesta sexta-feira (31), o início da aplicação de tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá a partir deste sábado (1º), assim como as tarifas de 10% para a China, em produtos que tenham os Estados Unidos como destino.
A intenção de executar a medida havia sido reafirmada pelo presidente Donald Trump na quinta (30). Em uma rede social, ele também ameaçou impor taxas de 100% aos produtos dos países que compõem os Brics, caso sigam com a ideia de criar uma moeda própria para substituir o dólar no comércio exterior. O grupo é composto por 10 países.
Sobre a União Europeia, Leavitt afirmou que não há nada definido em relação à tarifas ao bloco.
Impactos
Canadá e México são teoricamente protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC assinado durante o primeiro mandato do republicano. No entanto, na quinta (30), o magnata disse que decidiria a qualquer momento se isentaria de tarifas o petróleo produzido nesses dois países.
Segundo a Oxford Economics, com a aplicação das tarifas, a economia dos Estados Unidos pode perder 1,2 ponto percentual de crescimento, e o México poderia mergulhar em uma recessão.
Para Wendong Zhang, professor da Universidade de Cornell, o choque não seria tão grande para os Estados Unidos, mas teria grande impacto para Canadá e México.
— Nesse cenário, Canadá e México podem esperar uma contração do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,6% e 2%, respectivamente, e os Estados Unidos, em 0,3%. A China também sofreria com uma escalada da guerra comercial existente, mas ao mesmo tempo se beneficiaria (das tensões entre Estados Unidos, México e Canadá) — estimou.
Política interna
Durante a campanha, o candidato republicano disse que queria impor taxas alfandegárias de 10% a 20% sobre todos os produtos importados para os Estados Unidos, e de 60% a 100% sobre aqueles procedentes da China.
O objetivo naquela época era compensar financeiramente os cortes de impostos que ele também queria implementar durante seu mandato. Mas desde que ganhou as eleições, o tom mudou.
Em vez de uma ferramenta para compensar a queda nas receitas fiscais, as tarifas se tornaram, como foram durante seu primeiro mandato, uma arma que ele usa para forçar negociações e obter concessões.
Trump explicou que as tarifas ao Canadá e México foram uma resposta à incapacidade dos países vizinhos de impedir o fluxo de drogas, particularmente fentanil, e de imigrantes para os Estados Unidos.
O indicado para o cargo de secretário do Comércio, Howard Lutnick, chamou isso de "ato de política interna" durante sua audiência no Senado.
— As tarifas são simplesmente projetadas para forçá-los a fechar suas fronteiras. Esta é uma tarifa especial, criada para incentivá-los a agir — ele insistiu.
Reações
Na quarta-feira (30), a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, estava otimista de que as ameaças não passariam de promessas:
— Não achamos que isso vá acontecer, honestamente. E se acontecer, também temos nosso plano.
O sentimento não era compartilhado pelo setor agrícola, que exporta grande parte dos produtos para os Estados Unidos.
— Quase 80% das nossas exportações vão para os Estados Unidos e, de qualquer forma, qualquer coisa que possa causar um choque é motivo de preocupação — disse Juan Cortina, presidente do Conselho Nacional Agropecuário do México, à AFP na terça-feira (28).
Do lado canadense, a possibilidade de tarifas serviu para acentuar a crise política que já corroía o governo do primeiro-ministro, Justin Trudeau, que acabou renunciando.
O ministro da Segurança Pública do Canadá, David McGuinty, esteve em Washington na quinta-feira para esboçar um plano para fortalecer a segurança na fronteira entre Canadá e Estados Unidos.
Trudeau disse que o país está "em um momento crítico" e esperando por tempos difíceis, mas que tudo
— Qualquer resposta do Canadá às tarifas será deliberada, firme e imediata — disse.
Segundo ele, o país trabalhará para que as imposições sejam removidas definitivamente.
— Se forem necessárias medidas retaliatórias, tudo o que fizermos será justo em todo o país — pontuou.