Os uruguaios vão às urnas neste domingo (24) para eleger o próximo presidente em um segundo turno com resultado em aberto. A votação pode marcar a volta da esquerda ao poder, representada pelo icônico ex-presidente José Mujica, ou a continuidade da coalizão de centro-direita após cinco anos de governo.
Yamandú Orsi, professor de história de 57 anos, da opositora Frente Ampla, enfrenta Álvaro Delgado, veterinário de 55 anos, do Partido Nacional, que lidera a aliança governista.
O vencedor sucederá, em 1º de março, o presidente Luis Lacalle Pou, com um nível de aprovação perto de 50%, mas impedido constitucionalmente de disputar a reeleição.
A votação começou às 8h (mesmo horário em Brasília) e se estenderá até as 19h30min.
O Uruguai vai às urnas com alta renda per capita e menores níveis de pobreza e desigualdade frente ao resto da América Latina. No entanto, a situação econômica e a criminalidade dominam as preocupações dos eleitores do país agropecuário, com 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado.
— Para os trabalhadores, estes cinco anos não foram nada bons. Ando todo dia na rua e o que me preocupa é a insegurança. Vejo muitos assaltos, cada vez mais homicídios, pouca polícia — disse à AFP Gustavo Maya, um distribuidor de botijões de gás de 34 anos, eleitor de Orsi.
William Leal, um pedreiro de 38 anos, afirmou que votará em Delgado.
— Quero que este governo continue porque no setor da construção houve muito mais trabalho. O dinheiro rende mais. Embora continue caro, melhorou — declarou.
Cabeça a cabeça
Este segundo turno eleitoral promete ser muito disputado, assim como em 2019, quando Lacalle Pou venceu por apenas 37 mil votos.
Em 27 de outubro, Orsi obteve 43,9% dos votos, muito à frente de Delgado (26,7%), embora este conte com o apoio de todos os partidos da coalizão governista, que juntos obtiveram 47,7% dos votos. Orsi lidera todas as pesquisas, mas seguido de perto por Delgado, por uma diferença que diminuiu nos últimos dias e se situa dentro das margens de erro.
— É um cenário muito competitivo — informou à AFP o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum.
A Frente Ampla espera voltar ao governo, perdido em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles com Mujica (2010-2015). O ex-guerrilheiro de 89 anos teve uma participação ativa no final da campanha, apesar de estar se recuperando de um câncer. Em reuniões com moradores e entrevistas, ele criticou a avareza de alguns políticos, as corporações e o presidente em fim de mandato Lacalle Pou.
Com seu estilo bonachão e seus habituais comentários filosóficos, questionou o "consumismo abominável", e falou sobre um legado politico e a iminência da morte em uma espécie de despedida que emocionou muitas pessoas.
"Governabilidade" e "maioria silenciosa"
Após o primeiro turno, em outubro, a Frente Ampla ficou com 16 dos 30 assentos do Senado, e a coalizão governista, com 49 dos assentos da Câmara dos Deputados. Orsi, que foi intendente do departamento de Canelones durante uma década, assegurou ter a "governabilidade" para impulsionar "as transformações de que o país precisa".
— Queremos ir ao encontro e buscar linhas de acordo — disse Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou, confiando em que "uma maioria silenciosa" lhe dará a vitória porque o Uruguai está "melhor" do que em 2019.
Vença quem vencer, não se antecipa uma reviravolta. Orsi prometeu "uma mudança segura, que não será radical" e Delgado, avançar na via atual.
No entanto, o tema dos impostos gerou atritos no único debate da campanha. Ambos se comprometeram a não aumentar a carga tributária, mas Delgado questionou a promessa do adversário, afirmando que o programa da Frente Ampla o prevê.
Os dois têm dito que vão impulsionar o crescimento, em recuperação após a desaceleração provocada pela pandemia e por uma seca histórica. Também apostam em reduzir o déficit fiscal e combater o aumento da criminalidade vinculada ao narcotráfico.
Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão habilitados a votar no segundo turno, no qual o vencedor será definido por uma maioria simples. No Uruguai, o voto é obrigatório e não existe o voto consular, razão pela qual é aguardada a vinda de milhares de uruguaios residentes na vizinha Argentina.