Israel prosseguiu nesta terça-feira (28) com os bombardeios contra Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no mesmo dia em que Irlanda, Espanha e Noruega reconhecem oficialmente a Palestina como Estado e apesar das condenações internacionais após um ataque contra uma área designada para deslocados.
A decisão dos três países europeus, que entra em vigor nesta terça-feira, provocou uma reação de Israel, que a considera uma "recompensa" ao Hamas, um movimento terrorista que governa Gaza desde 2007 e contra o qual as tropas israelenses estão em guerra há mais de sete meses.
Com Espanha, Irlanda e Noruega, o Estado da Palestina passará a ser reconhecido por 145 países dos 193 Estados-membros da ONU, embora a lista não inclua a maioria das potências ocidentais.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que o reconhecimento é uma "necessidade para alcançar a paz" entre israelenses e palestinos, além de ser "uma questão de justiça histórica" para o povo palestino.
O chanceler israelense, Israel Katz, acusou a Espanha de ser "cúmplice de incitação ao assassinato do povo judeu".
Nas últimas horas, a comunidade internacional expressou indignação com o bombardeio israelense no domingo (26) à noite no campo de deslocados de Barkasat, nos arredores de Rafah, que matou 45 pessoas e feriu 249, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou o atentado de domingo em Rafah como "um acidente trágico". O Exército anunciou que investigará as mortes de civis. Em um primeiro momento, as Forças Armadas afirmaram que a ação teve como alvo dirigentes do Hamas.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta terça-feira em caráter de urgência a pedido da Argélia, membro não permanente do organismo.
Bombardeios em Rafah
As forças israelenses prosseguiram com a campanha de bombardeios e disparos de artilharia no centro e oeste de Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito, no âmbito de uma operação terrestre que começou em maio.
— Não dormimos a noite toda porque aconteceram bombardeios por todos os lados, tiros de artilharia e bombardeios aéreos. Foi horrível. Vimos todo mundo fugindo de novo. Nós também vamos partir, tememos por nossas vidas — disse à AFP Faten Juda, uma mulher de 30 anos que mora no bairro de Tal Al Sultan, no noroeste de Rafah, alvo de ataques no domingo.
Um correspondente da AFP também observou bombardeios e disparos de artilharia em vários bairros da Cidade de Gaza, no norte do território, onde três pessoas morreram e várias ficaram feridas quando projéteis atingiram uma casa.
"Repercussão internacional"
O governo dos Estados Unidos afirmou que ficou "impactado" com o ataque e pediu a Israel para "adotar todas as precauções para proteger os civis". A China expressou "forte preocupação" com as operações israelenses em Rafah.
A ONU pediu uma investigação "completa e transparente" do bombardeio. O secretário-geral da organização, António Guterres, condenou a ação que, afirmou, "matou vários civis inocentes que apenas procuravam refúgio em um conflito mortal".
O Crescente Vermelho Palestino afirma que o local bombardeado por Israel havia sido designado como uma "zona humanitária". As imagens registradas por funcionários da organização mostram cenas caóticas, com ambulâncias e socorristas entrando no complexo em chamas durante a noite e retirando os feridos, incluindo muitas crianças.
O bombardeio ocorreu horas depois de o Hamas ter disparado foguetes contra a cidade israelense de Tel Aviv e outras áreas de Israel, sem provocar vítimas, e dois dias após a Corte Internacional de Justiça, o principal tribunal da ONU, ter ordenado a Israel que suspendesse as operações em Rafah.
O Catar, que atua como mediador ao lado dos Estados Unidos e Egito para tentar obter uma trégua no conflito e a libertação dos reféns, afirmou que os bombardeios em Rafah podem prejudicar as negociações.