O governo Javier Milei estendeu a proibição do uso da linguagem inclusiva a toda a administração nacional da Argentina, algo que já havia sido aplicado na área da Defesa, informou o porta-voz presidencial Manuel Adorni nesta terça-feira (27).
— O governo iniciará ações para proibir a linguagem inclusiva e a perspectiva de gênero em toda a administração pública nacional — disse Adorni em coletiva de imprensa.
Uma vez oficializada, nenhum documento da administração pública poderá conter o uso da vogal "e" ou dos símbolos "x" e "@" para expressar a indeterminação de gênero, bem como a "inclusão desnecessária do feminino" nos sujeitos plurais, explicou. A linguagem inclusiva evita o uso de palavras, termos e expressões que possam reforçar estereótipos, preconceitos ou discriminação, mas sem fazer alterações na gramática.
— A língua que abrange todos os setores é a língua castelhana, não vejo por que deveria ter estruturas. É um debate do qual não vamos participar porque consideramos que as perspectivas de gênero também têm sido utilizadas como um objeto político, isso não tem discussão — justificou Adorni quando questionado sobre os motivos da decisão.
Na última sexta-feira (23), o governo Milei já havia publicado uma resolução no site da presidência anunciando a mesma medida, mas restrita ao Ministério da Defesa e às Forças Armadas.
Embora o uso de linguagem inclusiva fosse discricionário, muitas agências estatais a adotaram como regra padrão.
De acordo com a resolução 160/2024, o Ministério da Defesa, chefiado por Luis Petri - ex-candidato à vice-presidência pela coalizão Juntos pela Mudança na chapa de Patricia Bullrich - tornou obrigatório o uso do idioma castelhano, de acordo com as regras da Real Academia Espanhola (RAE) e os regulamentos e manuais em vigor nas Forças Armadas.
A medida se alinha com as críticas recorrentes de Milei ao que chama de "marxismo cultural" e "ideologia de gênero". Em seu discurso no Fórum Econômico de Davos, em janeiro, o argentino afirmou que o feminismo e o socialismo eram ameaças ao Ocidente.
A ideia da linguagem inclusiva surgiu na década de 1970 a partir dos movimentos feministas como uma estratégia linguística e discursiva para visava expressar apoio aos direitos das mulheres e da comunidade LGBT+ em todo o mundo.
As instituições culturais dedicadas à regularização linguística discutiram seu uso em várias ocasiões. No caso dos falantes de espanhol, a RAE especificou em seu "Relatório sobre linguagem inclusiva e questões relacionadas", publicado em 2020, que o uso de simbologias é desnecessário.
Para a Academia, o sexismo e a misoginia não são propriedades da língua, mas usos dela, que não são inerentes ao sistema, mas valores que "adquirem uso devido à intencionalidade dos emissores ou a seus preconceitos ideológicos".
"Eles não são de responsabilidade do meio, mas dos falantes. Não são corrigidos com o aprimoramento da gramática, mas com a erradicação dos preconceitos culturais por meio da educação", observou o relatório.