O governo peruano chegou a um acordo, nesta quarta-feira (31), para suspender os protestos de moradores que afetaram por seis dias o turismo em Machu Picchu, em repúdio à privatização da venda de entradas na emblemática cidadela inca.
As partes anunciaram a retomada das atividades comerciais e o fim dos bloqueios na ferrovia que leva ao complexo arqueológico. O serviço de trens também reativou suas operações nesta tarde após cinco dias de suspensão pelas interdições.
"Temos a boa notícia da suspensão da paralisação", comemorou a ministra de Cultura, Leslie Urteaga, à rádio RRP.
O governo cedeu e aceitou anular antecipadamente o contrato com uma operadora privada que vendia os ingressos on-line, apesar de ter denunciado um esquema de corrupção nas vendas diretas através da plataforma pública.
Funcionários e líderes do protesto assinaram o entendimento, após uma reunião no distrito de Machu Picchu Pueblo, no departamento de Cusco.
Um porta-voz dos moradores mobilizados, o ex-prefeito da cidade Darwin Baca, confirmou o acordo à AFP.
"Tomamos a decisão de suspender a paralisação por tempo indeterminado (...) Estamos de acordo com a ata assinada pelo governo. As atividades turísticas já estão sendo normalizadas", acrescentou Baca.
O principal ponto do documento prevê "a anulação antecipada" do contrato com a empresa peruana Joinnus para vender pela internet as entradas a Machu Picchu e à rede de caminhos incas.
A Joinnus começou a comercialização em 20 de janeiro em uma operação que, a princípio, devia se estender até agosto.
Diante do fim antecipado do convênio, "garante-se a continuidade do serviço de venda digital enquanto se desenvolve o processo de transição" para uma nova plataforma pública, aponta o pacto entre as autoridades e os moradores.
- "Modelo de corrupção" -
Em 25 de janeiro, coletivos do distrito de Machu Picchu Pueblo paralisaram o comércio e interromperam com bloqueios a chegada dos visitantes por trem, principal meio de acesso à cidadela, patrimônio da humanidade.
As organizações afirmavam que o contrato com a Joinnus representava o começo da "privatização" de Machu Picchu.
Por causa do protesto, cerca de 1.200 turistas peruanos e estrangeiros tiveram que ser retirados com escolta policial no fim de semana, vários dos quais não puderam entrar na cidadela pré-hispânica.
Em cada dia de protesto, deixaram de receber um milhão de soles (cerca de R$ 1,3 milhão, na cotação atual), segundo cálculos oficiais.
A princípio, o Ministério da Cultura justificou a contratação de um intermediário privado para a venda de ingressos alegando problemas com sua plataforma.
No entanto, a ministra Urteaga logo denunciou graves irregularidades na gestão dos ingressos através do sistema, com a participação do setor "de informática e do próprio parque arqueológico".
Citando um relatório da Controladoria, a ministra da Cultura apontou um desvio de recursos de 7,5 milhões de soles por ano (9,7 milhões de reais), através, por exemplo, do falso registro de turistas.
Machu Picchu recebe, em média, 4.500 visitantes por dia.
Nesta quarta-feira, o governo ratificou seu compromisso de reservar cerca de 1.000 bilhetes por dia para venda direta no centro cultural do povoado.
Há um ano, as autoridades fecharam o acesso ao complexo turístico por 25 dias devido a protestos contra a destituição do hoje detido ex-presidente Pedro Castillo, após sua tentativa fracassada de dissolver o Congresso.
Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1983, Machu Picchu, situada a 130 km da cidade de Cusco e a 2.438 metros de altitude, foi construída no século XV por ordem do imperador inca Pachacútec (1438-1470).
* AFP