Mais de 200 opositores foram libertados nesta quinta-feira (9) na Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega e deportados para os Estados Unidos.
Entre eles destacam-se dez personalidades:
1) Cristiana Chamorro, pré-candidata à Presidência
Cristiana Chamorro, de 69 anos, é filha do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado em 1978 por sua oposição ao regime de Anastasio Somoza, e da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997).
Jornalista do jornal La Prensa, que era dirigido por seu pai, Cristiana pretendia se candidatar à Presidência quando foi presa e colocada em prisão domiciliar em junho de 2021. Foi condenada a oito anos de prisão.
Sua mãe assumiu a Presidência em 1990 ao derrotar Ortega como candidata de uma oposição unida, acabando com o revolucionário regime sandinista que havia chegado ao poder em 1979.
A ex-presidente, hoje com 93 anos, está aposentada há anos por motivos de saúde.
2) Pedro Joaquín Chamorro, ex-ministro -
O jornalista Pedro Joaquín Chamorro, de 71 anos, é irmão de Cristiana e foi condenado a 9 anos de prisão.
Ele tem o mesmo nome de seu pai e trabalhou para o jornal La Prensa, mas ganhou notoriedade por administrar fundos nos Estados Unidos para a guerrilha dos Contra, que lutava contra o governo sandinista na década de 1980.
Foi ministro da Defesa em 1998-1999 e também foi deputado por dez anos.
Pedro Joaquín Chamorro foi preso em junho de 2021 junto com outros opositores, incluindo sua irmã e seu primo, Juan Sebastián Chamorro (também solto nesta quinta-feira).
3) María Fernanda Flores, ex-primeira-dama
A ex-primeira-dama María Fernanda Flores, de 55 anos, foi deputada pelo Partido Liberal Constitucionalista até ser presa em 2021.
A esposa do ex-presidente Arnoldo Alemán (1997-2002) foi condenada a oito anos de prisão por conspiração e inabilitada para assumir cargos públicos.
O ex-presidente Alemán, de 77 anos, mora há anos em uma fazenda nos arredores de Manágua, longe dos holofotes.
4) Dora María Téllez, ex-comandante da guerrilha
A ex-comandante guerrilheira Dora María Téllez, 67 anos, liderou em 1978 junto com Eden Pastora e Hugo Torres a tomada do Palácio Nacional de Manágua, que obrigou à libertação de dezenas de presos sandinistas pelo ditador Anastasio Somoza.
Foi ministra da Saúde do governo sandinista após a queda de Somoza.
Ela deixou a Frente Sandinista em 1995 com outros militantes proeminentes, como o ex-vice-presidente e escritor Sergio Ramírez e o padre Ernesto Cardenal. Téllez passou a liderar coletivos feministas.
Foi presa em junho de 2021, quando a oposição se preparava para as eleições de novembro, nas quais Ortega foi reeleito enquanto todos os seus rivais estavam na prisão ou no exílio. Ela foi condenada a 8 anos de prisão.
5) Francisco Aguirre, ex-chanceler
O ex-chanceler Francisco Aguirre Sacasa, de 78 anos, foi preso em julho de 2021 e condenado a oito anos de prisão "por praticar atos que atentam contra a independência, a soberania e a autodeterminação, [e] incitar a interferência estrangeira em assuntos internos".
Ele serviu como chefe da diplomacia da Nicarágua entre 1997 e 2002 no governo de direita de Arnoldo Alemán.
6) Víctor Hugo Tinoco, ex-vice-chanceler
Víctor Hugo Tinoco, 70 anos, foi vice-chanceler no governo sandinista na década de 1980. Também foi deputado e embaixador na ONU, mas se tornou opositor de Ortega no início dos anos 2000.
Ele foi preso em junho de 2021 e recebeu uma sentença de 13 anos de prisão em 2022 sob a acusação de conspirar para minar a integridade nacional em detrimento do Estado da Nicarágua e da sociedade.
7) Arturo Cruz, ex-embaixador nos EUA -
Arturo Cruz, de 69 anos, foi embaixador em Washington por dois anos após o retorno de Ortega ao poder em 2007.
Doutor pela Universidade de Oxford, foi um dos candidatos presidenciais da oposição Aliança Cidadã e foi detido em 2021 no aeroporto de Manágua quando se preparava para viajar para Washington.
Em 2022, Cruz recebeu uma sentença de nove anos de prisão.
8) Óscar René Vargas, ex-assessor presidencial -
O sociólogo Óscar René Vargas, de 77 anos, foi para o exílio após a crise de 2018, mas foi preso em novembro de 2022 após retornar ao país para visitar a irmã doente.
Foi assessor de Ortega, mas se distanciou dele pouco depois do mandatário reassumir a presidência em 2007.
9) Medardo Mairena, líder camponês
O líder camponês Medardo Mairena, de 47 anos, foi ativista contra o projeto de Ortega de construir um canal interoceânico pela Nicarágua (para competir com o Canal do Panamá), com financiamento de empresários chineses.
Ele foi o protagonista dos protestos de 2018 contra Ortega com bloqueios de estradas.
Mairena também pretendia tornar-se um candidato presidencial quando foi preso em 2021 e foi sentenciado a 13 anos de prisão em 2022 por "minar a integridade nacional".
10) Lorenzo Holmann Chamorro, diretor do La Prensa
Lorenzo Holmann Chamorro era o diretor do jornal La Prensa, crítico a Ortega, que foi preso em 14 de agosto de 2021, um dia depois que a polícia invadiu as dependências do jornal.
Holmann, sobrinho da ex-presidente Violeta Chamorro, foi condenado a oito anos de prisão.
O jornal fundado em 1926 parou de ser impresso em agosto de 2022. Atualmente, é publicado na internet no exílio.
* AFP