A conferência das Nações Unidas sobre biodiversidade começa nesta quarta-feira (7) em Montreal com o desafio de estabelecer um acordo histórico em duas semanas, a "última chance" de salvar espécies e ecossistemas da destruição irreversível.
Delegados de mais de 190 países se reunirão até 19 de dezembro para adotar um novo roteiro para a próxima década que proteja a natureza e seus recursos essenciais para a humanidade.
O tempo é curto; um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, um terço das terras está severamente degradado e os solos férteis desaparecem, enquanto a poluição e as mudanças climáticas aceleram a devastação dos oceanos.
"A humanidade se tornou uma arma de extinção em massa", denunciou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na terça-feira, durante a abertura da cúpula.
Ele atribuiu essa situação consequência ao "apetite sem fim da humanidade por crescimento econômico desenfreado e desigual".
Ele se referiu à COP15 como a "oportunidade de parar essa orgia de destruição". No entanto, as negociações estão paradas há três anos.
Desta vez, trata-se de alcançar um acordo com cerca de vinte objetivos, sendo o principal deles proteger 30% das terras e do mar.
Outros preveem a recuperação de ambientes naturais, a redução de pesticidas, o combate a espécies invasoras e condições para uma pesca e agricultura sustentáveis.
- "Reta final" -
Estima-se que a degradação dos ecossistemas custará 3 bilhões de dólares por ano até 2030, lembrou Guterres.
Antes de seu discurso, uma dezena de ativistas indígenas protestou diante do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, denunciando a crise ecológica nessas comunidades.
Seus territórios abrigam 80% da biodiversidade remanescente no mundo e o reconhecimento, até financeiro, de seu papel no acordo final é uma das questões espinhosas a serem resolvidas.
Na tentativa de chegar a acordos, três dias de discussões prévias foram organizados, de 3 a 5 de dezembro, mas sem avanços significativos, pois apenas cinco objetivos foram aprovados.
Isso causou preocupação entre especialistas e ONGs.
"Esta cúpula é uma oportunidade que o mundo não deve perder, provavelmente a última para os governos virarem a maré e salvarem nosso precioso sistema de suporte à vida", disse a representante da WWF, Bernadette Fischler Hooper, na terça-feira.
"Estamos na reta final e é hora de todos nós darmos um passo à frente", comentou a chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Inger Andersen, visivelmente preocupada.
- 100 bilhões -
A cúpula, presidida pela China e transferida para o Canadá devido à política de covid zero de Pequim, está sendo realizada sem a presença de líderes mundiais, que compareceram em massa à COP do clima em Sharm-el-Sheikh em novembro.
Em vez disso, os ministros ligados ao meio ambiente serão os encarregados, a partir de 15 de dezembro, de dirigir as negociações.
A maior ambição do encontro continua sendo selar um acordo histórico como o que surgiu na cúpula do clima de Paris em 2015.
No entanto, alguns temem "estratégias deliberadas para provocar um cenário semelhante ao de Copenhague", onde a COP foi um fracasso total em 2009, alerta a ONG Avaaz.
Para evitar um tropeço, os países precisam pactuar metas mensuráveis e monitoradas, para não repetir o fracasso do marco anterior, adotado em 2010 em Aichi, no Japão.
O financiamento dos países ricos aos países em desenvolvimento será um ponto decisivo.
Uma coalizão de países do Sul pediu um mínimo de 100 bilhões de dólares por ano para questões de biodiversidade e clima, e 700 bilhões de dólares por ano até 2030.
Alguns países estão tentando criar um fundo dedicado à biodiversidade, ao que os países ricos se opõem, dando preferência aos canais existentes, principalmente os bancos públicos de desenvolvimento.
Outra questão espinhosa sobre a qual não há consenso é a da biopirataria.
Muitos países exigem que as nações ricas compartilhem os lucros de produtos cosméticos e medicamentos derivados de recursos conservados no hemisfério sul.
* AFP