A junta militar de Mianmar condenou nesta quinta-feira (29) a líder civil deposta Aung San Suu Kyi a mais três anos de prisão, desta vez pela acusação de violar a lei de Segredos de Estado, em um processo denunciado como político pela comunidade internacional.
A sentença mais recente se soma a outras para um total de 20 anos de prisão para a ex-governante birmanesa, por acusações que vão de corrupção até fraude eleitoral, definidas em julgamentos realizados a portas fechadas.
A vencedora do Nobel da Paz de 1991, de 77 anos e detida desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, ainda enfrenta outras acusações que podem acumular até 120 anos de prisão.
Suu Kyi vai apresentar recurso contra o veredicto.
O tribunal da junta militar na capital Naypyidaw também condenou um ex-conselheiro de Suu Kyi, o economista australiano Sean Turnell, e outras três pessoas à mesma sentença.
O professor australiano também foi condenado a outros três anos de prisão por violação da lei sobre a migração, mas cumprirá as duas penas simultaneamente
"O senhor Sean Turnell, Aung San Suu Kyi e outras três pessoas receberam sentenças de três anos de prisão sob a Lei de Segredos de Estado", afirmou uma fonte judicial à AFP.
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, criticou a sentença e exigiu a "libertação imediata" do compatriota.
O acúmulo de condenações demonstra que a junta "não tem nenhum escrúpulo em assumir o status de pária internacional", declarou Elaine Pearson, diretora para a Ásia da Human Rights Watch (HRW).
A esposa de Turnell fez um apelo para que a junta militar liberte o marido. "Levem em consideração as contribuições que fez a Mianmar e o expulsem agora", pediu Ha Vu.
Turnell era conselheiro de Aung San Suu Kyi e foi preso após o golpe militar, quando concedia uma uma entrevista por telefone para a emissora britânica BBC.
Os detalhes da acusação contra ele nunca foram divulgados, mas a televisão estatal de Mianmar afirmou que o australiano teve acesso a "informações financeiras secretas" e tentou deixar o país.
- Crueldade judicial -
Mianmar vive um cenário de caos desde o golpe militar de 2021 que derrubou o governo eleito de Aung San Suu Kyi.
Desde o golpe, mais de 2.200 civis morreram e quase 15.000 pessoas foram detidas nas ações de repressão contra a dissidência, segundo uma ONG local.
Muitas vozes denunciam uma crueldade judicial por motivos políticos com o objetivo de afastar definitivamente da vida pública a filha do herói da independência do país e grande vencedora das eleições de 2015 e 2020.
Vários colaboradores de Suu Kyi receberam sentenças de prisão severas e um ex-deputado de seu partido, Phyo Zeya Thaw, foi condenado à morte e executado no final de julho.
Os militares rebatem as críticas e prometem iniciar negociações com Aung San Suu Kyi após os processos judiciais.
"Poderíamos ter adotado medidas mais severas, mas somos tolerantes com ela", disse o comandante da junta, Min Aung Hlaing, durante uma reunião com o emissário da ONU em agosto.
Os enviados especiais da ONU e da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) não foram autorizados a ter uma reunião com a líder civil em suas visitas a Mianmar.
* AFP