O vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, anunciou nesta sexta-feira (12) que renunciou ao cargo e também a suas aspirações de ser candidato à presidência no próximo ano pelo governista Partido Colorado, depois que os Estados Unidos o sancionaram por corrupção significativa.
— A decisão de se retirar é para evitar afetar o entorno do presidente da República (Mario Abdo Benítez) ou do Partido Colorado. Vou me aposentar da política. Foi a última etapa da minha carreira. Se não aconteceu, o que vamos fazer? São desígnios de Deus — disse Velázquez à rádio 1080 AM.
O presidente Mario Abdo Benítez destacou "a atitude madura" de Velázquez ao "priorizar os interesses da construção e credibilidade de nossa nação ao anunciar sua renúncia".
O Departamento de Estado dos Estados Unidos sancionou Velázquez, 54 anos, nesta sexta-feira "por sua participação em atos significativos de corrupção, incluindo suborno de um funcionário público e interferência em processos públicos", disse o secretário de Estado, Antony Blinken, em comunicado.
Seu colaborador próximo e assessor jurídico da usina hidrelétrica Entidad Binacional Yacyretá, Juan Carlos Duarte, e vários de seus parentes também foram punidos.
— Falo com tranquilidade que o meu comportamento me dá, porque não fiz o que me acusam. Falo com a consciência tranquila. No caso que me envolve há uma brecha. É muito volátil — afirmou o político.
Até agora, Velázquez era o candidato à presidência dentro do movimento Força Republicana do Partido Colorado, que apoia Abdo Benítez, para as primárias marcadas para 18 de dezembro deste ano.
As eleições para a presidência do Paraguai serão realizadas em 30 de abril de 2023. O outro candidato do Partido Colorado é, até agora, Santiago Peña, pupilo político do ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018).
O ex-presidente, um rico empresário de tabaco, também foi sancionado pelos Estados Unidos há algumas semanas por corrupção significativa. De acordo com Washington, Cartes obstruiu uma importante investigação internacional sobre crimes transnacionais.
Corrupção na usina de Yacyretá
O caso pelo qual Washington sanciona Velázquez está relacionado à usina hidrelétrica de Yacyretá, obra binacional no rio Paraná, na fronteira do Paraguai com a Argentina.
"Duarte ofereceu propina a um funcionário público paraguaio para obstruir uma investigação que ameaçava o vice-presidente e seus interesses financeiros", comunicou Washington.
Segundo a Casa Branca, Duarte abusou e explorou de sua posição pública poderosa e privilegiada dentro da Entidade Binacional Yacyretá, colocando em risco a confiança pública em um dos ativos econômicos mais vitais do Paraguai.
Blinken estima que esses atos corruptos contribuem para a perda de confiança no governo e afetam a percepção pública de corrupção e impunidade no gabinete do vice-presidente. Velázquez e seu colaborador foram punidos pela seção 7031(c), ou seja, não terão direito a visto de entrada nos Estados Unidos.
Embora não tenha sido mencionado pelo Departamento de Estado, a imprensa paraguaia relembrou, nesta sexta-feira, uma foto de 2016 em que Velázquez e Duarte, durante uma visita ao Líbano, apareceram em um iate com Walid Amine Sweid, acusado pelos Estados Unidos de financiar o Partido Hezbollah, classificado como grupo terrorista por Washington.
— Eles me acusam de aliança com o Hezbollah quando não tenho absolutamente nada a ver com eles, exceto naquela viagem oficial quando oito deputados foram (ao Líbano). De lá para cá, parece que eu tenho ligações com o Hezbollah. Nunca! Eu condeno o terrorismo em todas as suas formas — defendeu-se o vice-presidente.