Conflituosas desde a sua separação, em 1949, as relações entre China e Taiwan são fonte de tensões recorrentes entre Washington e Pequim, que recentemente aumentaram com a visita da presidente da Câmara dos Representantes americana, Nancy Pelosi, a capital taiwanesa, Taipei. Ao longo de mais de 70 anos, várias etapas turbulentas passaram pela diplomacia entre a ilha autônoma e os chineses.
Separação
Em 1º de outubro de 1949, o líder comunista Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, após derrotar os nacionalistas na guerra civil que eclodiu depois da Segunda Guerra Mundial e durou quatro anos.
As tropas nacionalistas do Kuomintang, lideradas por Chiang Kai-shek, recuaram para Taiwan e formaram um governo. Os nacionalistas proibiram qualquer relação com a China continental.
Pouco depois aconteceu a primeira de uma série de tentativas do Exército Popular de Libertação da China (EPL) de tomar as ilhotas de Quemoy e Matsu. No ano seguinte, Taiwan tornou-se um aliado dos Estados Unidos, então em guerra contra a China na Coreia.
Representação na ONU
Em 5 de outubro de 1971, a China substituiu Taiwan na Organização das Nações Unidas (ONU).
Já em 1979, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Taiwan e reconheceram Pequim. Quase toda comunidade internacional adotou a política de "uma só China", que exclui as relações diplomáticas com o governo nacionalista.
Nesse cenário, Washington continuou sendo o principal aliado de Taiwan e seu principal fornecedor de equipamentos militares.
Lei antissecessão
Em 1987, Taiwan autorizou viagens à China continental para reuniões familiares, abrindo assim o caminho para trocas comerciais.
No ano de 1991, Taipei aboliu as disposições que estabeleciam o estado de guerra com a China. Mas, em 1995, a China cancelou as negociações de normalização em protesto contra a viagem do presidente taiwanês Lee Teng-hui aos Estados Unidos. No seguinte ano, a China lançou mísseis perto da costa taiwanesa, pouco antes da primeira eleição presidencial por sufrágio universal em Taiwan.
Em 14 de março de 2005, a China adotou uma lei antissecessão que previa meios "não pacíficos" caso Taiwan declare independência.
Diálogo inédito
Em 2008, ambos os países retomaram o diálogo suspenso em 1995. Dois anos depois, foi assinado um acordo de cooperação econômica e, quatro anos depois, estabeleceram um diálogo intergovernamental.
Em 7 de novembro de 2015, os presidentes chinês e taiwanês se reuniram em Singapura, algo inédito desde a separação.
Mais tensões
Em 2016, Tsai Ing-wen, que emergiu de um partido pró-independência, tornou-se presidente de Taiwan. Durante o mandato de Donald Trump, os Estados Unidos autorizaram uma grande venda de armas e adotaram uma lei que fortalece suas relações com Taiwan.
Pressão chinesa
Em 2019, o presidente da China, Xi Jinping, afirmou que desistiria de recuperar Taiwan e alertou Washington para o risco de "brincar com fogo" após uma nova venda de armas à ilha.
Em janeiro de 2020, Tsai Ing-wen, reeleita, afirmou que Taiwan é um país independente. Logo em outubro do mesmo ano, Xi Jinping informou ao exército chinês que se preparasse para a guerra.
Recorde de invasões
No dia 12 de abril de 2021, aeronaves militares chinesas penetraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan (Adiz). De janeiro ao início de outubro, mais de 600 aviões chineses foram detectados naquela área.
Em 22 de outubro, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que seu país estava pronto para defender Taiwan militarmente no caso de um ataque chinês. Dias após, a China rejeitou uma proposta americana de conceder a Taiwan participação significativa na ONU.
Visita de Pelosi
Durante um telefonema na última quinta-feira (28), Xi Jinping alertou Biden sobre as consequências de uma visita de Pelosi à ilha. A China advertiu que os Estados Unidos "pagariam o preço" caso a legisladora visitasse Taiwan. A Casa Branca insistiu, por sua vez, que tem direitos de visitação. Nesta terça-feira, Nancy Pelosi chegou a Taiwan, fazendo com que as tensões aumentassem ainda mais.