O governo líbio designado pelo Parlamento, e apoiado pelo influente marechal Khalifa Haftar, anunciou nesta terça-feira (17) sua retirada da capital Trípoli, sede do poder Executivo rival, após os combates que começaram com sua chegada.
A Líbia, um dos países com mais recursos da África, está em declínio desde o fim do regime de Muammar Khadafi em 2011, na sequência da Primavera Árabe, com crises políticas em sequência e conflitos.
Desde fevereiro, dois governos disputam o poder: um nomeado pelo Parlamento em Benghazi, leste do país, liderado pelo ex-ministro do Interior Fathi Bashagha, e outro em Trípoli, liderado pelo empresário Abdelhamid Dbeibah e formado em 2020 após um processo político mediado pela ONU.
Na segunda-feira à noite, o serviço de imprensa do Executivo nomeado em fevereiro anunciou "a chegada do primeiro-ministro do governo líbio, Fathi Bashagha, acompanhado por vários ministros à capital Trípoli para começar seu trabalho".
Poucas horas depois, no entanto, o mesmo serviço informou que Bashagha e seus ministros "deixaram Trípoli para preservar a segurança dos cidadãos".
Um correspondente da AFP testemunhou confrontos entre grupos armados na capital líbia após o anúncio da chegada do governo rival, mas sem identificar as facções.
Na região de Trípoli, oeste do país, os dois lados têm o apoio de grupos armados influentes no país de alianças que mudam constantemente.
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Em um vídeo publicado pela imprensa local, Bashagha afirmou que foi "muito bem recebido" em Trípoli e chegou a anunciar uma entrevista coletiva durante a tarde, antes de seu Executivo informar a retirada.
O outro governo não se pronunciou nas últimas horas sobre os acontecimentos.
A conselheira especial do secretário-geral da ONU para a Líbia, Stephanie Williams, pediu "moderação" e insistiu na "necessidade absoluta de abster-se de qualquer ação provocativa".
A embaixada dos Estados Unidos em Trípoli expressou preocupação com os confrontos armados e recordou às partes que "tomar ou conservar o poder com violência apenas prejudicará o povo líbio".
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, citou uma situação "muito grave", mas não surpreendente: "Na Líbia não temos eleições, mas temos dois governos (...) Mais cedo ou mais tarde, quando há dois governos, eles se enfrentam".
Mais de 10 anos depois da queda de Khadafi, o país do norte da África de apenas sete milhões de habitantes continua minado pela insegurança, divisões e rivalidades entre instituições do leste e oeste.
Em fevereiro, o Parlamento da região leste do país designou Bashagha para liderar um novo Executivo com o apoio do marechal Haftar, o homem forte do leste, cujas tropas tentaram conquistar a capital em 2019.
Mas Bashagha não conseguiu até o momento afastar o Executivo liderado por Dbeibah, que afirmou em diversas ocasiões que só entregará o poder a um governo eleito.
- Adiamento eleitoral -
Formado no início de 2020, o governo de Dbeibah tinha como principal missão a organização de eleições legislativas e presidenciais em dezembro de 2021, processo com o qual a comunidade internacional contava para a estabilidade do país.
Mas as disputas contantes entre os líderes políticos locais provocaram o adiamento da votação por tempo indeterminado. Para os rivais de Dbeibah, isto significou o fim de seu mandato.
A produção de petróleo, principal fonte de receita da Líbia, é refém da situação política, com uma onda de fechamentos forçados de campos de petróleo.
Considerados próximos ao grupo do leste, os grupos na origem dos bloqueios exigem a entrega do poder a Bashagha e uma melhor distribuição de renda do setor.
A produção caiu para cerca de 600.000 barris por dia, metade da média anterior, e provoca perdas de "60 milhões de dólares" por dia, informou à AFP em abril o ministério do Petróleo e Gás.
* AFP