O Sudão, um dos países mais pobres do mundo, está mais uma vez isolado economicamente após o golpe do general Abdel Fatah al-Burhan em outubro, segundo especialistas, que apontam para um aumento da pobreza.
Com seu salário de professor, Babiker Mohamed não sabe mais como alimentar sua família de seis pessoas. "Hoje, gasto 27 mil libras por mês em pão, ou seja, 90% do meu salário", explica.
Juntamente com centenas de professores, ferroviários e outros manifestantes, ele se juntou aos protestos semanais contra o exército, pedindo também a redução do custo de vida.
Desde novembro, um grupo de manifestantes bloqueia uma importante rota comercial para o Egito, para denunciar o aumento do preço da eletricidade.
Além disso, o governo militar reduziu progressivamente os subsídios à gasolina: na quarta-feira, o litro custava 672 libras (cerca de 1,55 dólares), ante 320 libras antes do golpe.
Em retaliação ao golpe de Estado liderado pelo general Fatah al-Burhan em 25 de outubro e à repressão das mobilizações contra ele, o Banco Mundial suspendeu 2 bilhões de dólares de ajuda e os Estados Unidos, 700 milhões.
O Estado perdeu assim 40% das suas receitas. Pior ainda, Washington, que enviou 300.000 toneladas de trigo em 2021, não enviará as 400.000 toneladas prometidas em 2022.
Soma-se a isso o fato de que dois dos maiores produtores de trigo do mundo, Rússia e Ucrânia, estão em guerra.
O governo afirma ter projetado um orçamento autossuficiente para 2022. Mas especialistas o descartam como mera fachada.
Depois de 25 de outubro, o país "retornou ao embargo" imposto em 1993 durante o governo do ditador deposto Omar al-Bashir em 2019, a quem Washington acusou de apoiar o "terrorismo", explica a economista Samia Sayyid à AFP.
É um golpe tão duro "quanto a perda de petróleo quando o Sudão do Sul se tornou independente" em 2011, acrescenta Mohamed al-Nayyir, também economista.
Naquela época, Cartum perdeu 85% dos 7,5 bilhões de dólares que recebia com exportações. Além disso, a moeda entrou em colapso e a inflação foi de 45%.
Mas dez anos depois, o aumento dos preços continua a acelerar. Em fevereiro, atingiu 258%. E de acordo com al-Nayyir, pode "chegar a 500%".
Na tentativa de restabelecer o equilíbrio, em 7 de março o Banco Central anunciou a flutuação da libra, que agora é negociada livremente no mercado de câmbio a 660 libras por euro.
"É a decisão certa, mas na hora errada", diz Sayyid. Acredita que teria sido melhor após a queda de al-Bashir, quando os fundos e oportunidades de negócios fluíram para "estimular a produção" e neutralizar "a inflação e a desvalorização".
Mas, atualmente, as autoridades fazem o contrário e "aumentam os impostos sobre as mercadorias, principalmente agrícolas, o que é um fardo para os setores produtivos", explica.
No Sudão, um em cada três habitantes depende de ajuda humanitária.
* AFP