Movimentos sociais argentinos, historicamente alinhados ao peronismo, fizeram na quinta-feira (16) a primeira grande manifestação nas ruas após a derrota governista nas primárias de domingo (12). Os protestos na capital, Buenos Aires, foram em razão da crise econômica e contra o presidente, Alberto Fernández.
Os manifestantes foram convocados por organizações sociais de esquerda, ligadas à vice-presidente, Cristina Kirchner, e que não apoiam o presidente. A manifestação agravou a divisão no governo, para o qual Fernández foi escolhido como cabeça de chapa pela própria ex-presidente.
Os manifestantes foram na direção do Ministério do Desenvolvimento Social, onde já tinha ocorrido um protesto no mês passado. A marcha ocorreu depois que vários ministros da facção liderada por Cristina colocaram seus cargos à disposição do presidente, na quarta-feira, o que afastou ainda mais os dois e abriu uma crise política no governo.
Ainda na quarta, Fernández falou pela primeira vez sobre a disputa com a vice.
— Ela (Cristina) me conhece. Ela sabe que se for pelo bem, aceito qualquer coisa. Mas, com pressão, não vai me obrigar — disse Fernández ao jornal Página 12.
Segundo assessores, ele estaria chateado com a vice, principalmente por ela ter recorrido a Sergio Massa (presidente da Câmara) durante a crise.
— Por que ela não me ligou? — reclamou.
Cristina também se manifestou sobre a crise política. A vice publicou no Twitter uma carta aberta a Fernández, lembrando que foi ela quem o indicou para encabeçar a chapa na eleição de 2019.
"Quando tomei a decisão de propor Fernández como candidato a presidente, fiz com a convicção de que era o melhor para o país", escreveu Cristina. "Só peço que ele honre essa decisão."
Derrota
A crise entre os dois se agravou no domingo, depois que os peronistas saíram derrotados das urnas nas primárias, que definem os candidatos para as eleições legislativas de 14 de novembro. As prévias são consideradas um termômetro do desempenho eleitoral na Argentina e têm um peso diferente de outros países. Isso porque o voto é obrigatório, e a votação acaba sendo uma grande pesquisa com alta precisão.
— Não há razão para não realizar a manifestação — disse Eduardo Belliboni, líder do Polo Obrero (um dos grupos que marcharam).
De acordo com ele, a manifestação "não tem nada a ver com a crise política que está ocorrendo na Casa Rosada".
— A luta pelo poder não tem nenhuma relação com as necessidades da população — afirmou.
A pressão sobre o presidente argentino vem aumentando em razão da crise econômica que o país atravessa, agravada pela pandemia de covid-19. Belliboni garantiu que os grupos que saíram às ruas querem que "questões elementares" comecem a ser discutidas, como emprego, educação, alimentação e assistência social de emergência.