Os talibãs tomaram nesta terça-feira (10) duas outras cidades no Afeganistão, Farah e Pul-e Khumri (norte), elevando o total para oito capitais de províncias controladas em cinco dias, enquanto reforça seu controle no norte, de onde civis fogem em massa.
"Os talibãs estão agora na cidade, ergueram sua bandeira na praça central e no escritório do governador", contou à AFP Mamoor Ahmadzai, deputado da província de Baghlan, cuja capital é Pul-e Khumri, destacando que as forças afegãs se retiraram.
Após duas horas de combate, as forças de segurança se retiraram na noite de terça-feira para uma base fora da cidade, disse ele.
Antes, os insurgentes tomaram Farah, capital da província de mesmo nome.
"Esta tarde (terça-feira), o Talibã entrou em Farah após uma breve luta contra as forças de segurança. Eles tomaram o gabinete do governador e o quartel-general da polícia. As forças de segurança se retiraram para uma base militar", disse o vereador Shahla Abubar.
O Talibã avança em ritmo frenético e já controla oito das 34 capitais de província e seis das nove no norte, incluindo a estratégica Kunduz. Em outras, os combates continuam.
Além disso, os insurgentes começam a se aproximar de Mazar-i-Sharif, a maior cidade do norte, em uma região onde fortaleceram suas posições e da qual civis fogem em massa diante dessa ofensiva.
Cidade histórica e centro comercial, Mazar-i-Sharif é o pilar sobre o qual o governo sempre se apoiou para controlar a área geralmente contrária ao Talibã.
Foi lá que os talibãs encontraram a mais feroz resistência durante sua ascensão ao poder na década de 1990, e mesmo durante seu regime (1996-2001), no qual impôs uma versão ultraortodoxa da lei islâmica.
Nesta terça-feira, eles atacaram os bairros da periferia de Mazar-i-Sharif, embora tenham sido repelidos, confirmou um jornalista da AFP no local.
- Contatos diplomáticos -
Diante das recentes vitórias militares dos insurgentes, os Estados Unidos ativaram sua diplomacia, com um encontro de seu emissário Zalmay Khalilzad com representantes internacionais que começou no início da tarde em Doha (Catar), com representantes da China, Reino Unido, Paquistão, Uzbequistão, Nações Unidas e União Europeia.
Catar recebe desde setembro negociações entre o governo afegão e os talibãs firmadas no acordo de paz assinado em fevereiro de 2020 entre os insurgentes e os Estados Unidos, que previa a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão.
Essas negociações estão paralisadas e, aproveitando a saída das tropas americanas, o Talibã lançou uma forte ofensiva desde maio, primeiro conquistando vastas áreas rurais, e agora as cidades.
Embora as esperanças sejam mínimas, Khalilzad "pedirá aos talibãs que cessem sua ofensiva militar e negociem um acordo político", segundo o Departamento de Estado.
A retirada das forças internacionais foi decidida pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Seu sucessor, Joe Biden, atrasou a partida por alguns meses, mas as forças americanas e estrangeiras concluirão sua retirada no final de agosto.
O governo Biden deixou claro nas últimas semanas que a linha não mudará: manterá seu "apoio" a Cabul, mas são os afegãos que devem decidir seu destino. "É sobre defender seu país. É sua luta", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
Nesta terça, em declarações a jornalistas em Washington, Joe Biden instou os líderes do Afeganistão a se unirem e "lutar por sua nação" contra os insurgentes talibãs e reforçou que "não lamenta" concluir a retirada de tropas americanas do país.
"Os líderes afegãos têm que se unir. Têm que lutar por si próprios" contra os talibãs, disse o presidente a jornalistas. "Não lamento minha decisão" de retirar os últimos efetivos americanos presentes no país após duas décadas de guerra, acrescentou.
- Deslocados acampados em Cabul -
Milhares de pessoas fugiram do norte e muitas delas chegaram a Cabul depois de uma extenuante viagem de 10 horas por vários postos de controle de insurgentes.
Os talibãs "atacam e saqueiam", disse Rahima, uma mulher que acampou com centenas de pessoas deslocadas em um parque de Cabul depois de fugir de Sibargan, uma das cidades tomadas.
"Se há uma menina ou uma viúva na família, eles a levam à força. Nós fugimos para proteger nossa honra", disse ele.
"Estamos exaustos", disse Farid, que deixou Kunduz.
Kunduz, a maior conquista dos talibãs até agora, recuperou a calma nesta terça-feira, segundo moradores.
Os insurgentes não patrulhavam mais suas ruas e as lojas e restaurantes reabriram, embora os combates continuem em torno do aeroporto, ainda nas mãos do governo.
"As pessoas abrem suas lojas e seus negócios. Mas você ainda pode ver o medo em seus olhos", disse Habibullah, um lojista.
A ONU registrou pelo menos 183 civis mortos e 1.181 feridos em um mês nos combates em Lashkar Gah, Kandahar, Herat e Kunduz.
* AFP