O acesso ao aeroporto internacional de Cabul permanece congestionado, o caos deixou mortos, e as ameaças à segurança são constantes. Mesmo assim, milhares de pessoas continuavam tentando deixar o país, nesta segunda-feira (23), de forma desesperada, enquanto vários países estrangeiros seguem com suas arriscadas retiradas.
Vários civis perderam a vida em meio ao pânico e ao desespero no aeroporto da capital, a única porta de saída do país, após o retorno dos talibãs ao poder em 15 de agosto passado.
O Exército alemão anunciou a morte de um guarda afegão nesta segunda-feira (23), em um confronto com agressores não identificados. Na sequência, houve troca de tiros entre eles e soldados alemães e americanos.
Na reunião virtual do G7, que acontece amanhã (24), o Reino Unido quer pedir aos Estados Unidos que a ampliação do prazo da operação de retirada para além de 31 de agosto. Esta foi a data-limite estabelecida por Washington para se retirar do Afeganistão.
O presidente americano, Joe Biden, não excluiu a possibilidade de manter soldados no aeroporto depois deste dia. Nesta segunda-feira (23), os talibãs advertiram para as "consequências" se a retirada de todas as tropas for adiada.
- Aviões comerciais recrutados -
Desde 14 de agosto, cerca de 25.100 pessoas foram retiradas do Afeganistão a bordo de aviões americanos e de países aliados, informou a Casa Branca. Na semana passada, Biden disse que faltava retirar do país entre 10.000 e 15.000 americanos e entre 50.000 e 60.000 afegãos.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, comentou que era "matematicamente impossível" poder fazer isso até o final do mês.
No domingo (22), os Estados Unidos recrutaram aviões comerciais para agilizar a retirada. Estas aeronaves não vão aterrissar em Cabul, e sim, ajudarão a transportar pessoas enviadas para terceiros países, como Catar e Emirados Árabes Unidos.
- Talibãs culpam EUA -
Um funcionário da cúpula talibã culpou os Estados Unidos pelo caos no aeroporto no domingo. "Há paz e calma em todo país, mas apenas no aeroporto de Cabul existe o caos", disse Amir Khan Mutaqi, alertando que "isso deve parar o mais rápido possível".
Nesta segunda-feira, um porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, garantiu aos Estados Unidos e ao Reino Unido que não terão mais tempo para continuar com as retiradas e que, se assim fizerem, "haverá consequências".
- Escala no Golfo -
Para agilizar a saída das pessoas do aeroporto, muitos voos deixam temporariamente os passageiros em países do Golfo, como Catar (cerca de 7.000 pessoas), Emirados Árabes Unidos (cerca de 8.500), ou Kuwait.
- Vários voos para a Europa -
Os países europeus enviam, constantemente, voos para o Afeganistão para retirar os funcionários diplomáticos ou os colaboradores afegãos que podem ser alvos de vingança por parte dos talibãs.
O país com mais pessoas retiradas é a Grã-Bretanha. Foram 5.700 desde 13 de agosto, incluindo 3.100 afegãos, informou seu Exército no domingo (22).
Em 20 voos, a Alemanha conseguiu remover mais de 2.700 pessoas. Além disso, os Estados Unidos acertaram a transferência de cerca de 5.000 de seus retirados para a base militar de Ramstein (sudoeste da Alemanha).
Washington fechou um acordo similar com as bases de Rota e de Morón, no sul da Espanha, país que acolheu pelo menos 314 afegãos. A Itália já transferiu 1.600 civis afegãos dos 2.500 previstos, e a França repatriou mil pessoas - a maioria afegã.
- Relutância da Rússia e da Turquia -
Esse fluxo levantou suspeitas do presidente russo, Vladimir Putin. Ele pediu que se interrompesse as entradas de afegãos, porque poderia haver "combatentes disfarçados de refugiados".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a Turquia não poderá "arcar com a responsabilidade de terceiros países" para acolher afegãos agora ameaçados por terem trabalhado com instituições ocidentais.
* AFP