No momento em que o Exército afegão mostra sua fraqueza e parece incapaz de impedir o avanço dos talibãs no território, um jovem general com uma convicção de ferro se tornou um símbolo de resistência no sul do país.
Aos 36 anos, Sami Sadat, o oficial de mais alto escalão no sul, luta com seus homens nas ruas de Lashkar Gah, capital da província de Helmand, sitiada há meses pelos talibãs, que entraram na cidade na semana passada.
Várias capitais provinciais caíram nas mãos dos talibãs nos últimos dias no norte do Afeganistão, onde a situação parece terrível para o governo. Mas, em Lashkar Gah, contra todas as probabilidades, o Exército está de pé.
A coragem de Sami Sadat à frente de 20 mil homens da brigada 215 do Exército, que comanda há 11 meses, e seu domínio da comunicação tornaram-no muito popular nas redes sociais, onde é retratado como um "herói", ou "salvador".
Sua recente notoriedade rendeu-lhe a nomeação, na quarta-feira, como chefe das forças especiais em todo país. Ele está convencido de que o Exército pode mudar o curso das coisas e envia uma mensagem simples: o Talibã não passará.
"Todos os talibãs que vierem a Lashkar Gah morrerão, ou ficarão incapacitados para o resto da vida", disse o general Sadat, em entrevista por telefone à AFP pouco antes de sua promoção.
Ainda assim, ele está ciente de que levará "semanas" para recuperar totalmente Lashkar Gah.
- "Análise profunda -
"Ele não é alguém que dá ordens e se esconde atrás de seu veículo no final do comboio", diz um oficial amigo de Sadat. "Ele está disposto a fazer qualquer coisa por seus soldados", garante.
Treinado em uma academia militar alemã, depois na Polônia, no Reino Unido e nos Estados Unidos, graduado na prestigiosa King's College de Londres, o general Sadat iniciou sua carreira militar no Ministério do Interior afegão.
Em seguida, passou pela Direção de Segurança Nacional (NDS), os serviços de Inteligência, onde aprimorou sua compreensão de um país complexo.
"Ele tem uma visão muito estratégica e uma análise muito profunda do que está acontecendo. Fez um trabalho muito, muito bom em Lashkar Gah", considera um general, ex-colega no NDS.
"Ele entende a importância da Inteligência e de agir na hora certa", acrescenta Massoud Andarabi, ex-ministro do Interior.
O Exército lançou um contra-ataque em Lashkar Gah, em 4 de agosto. Antes disso, o general Sadat pediu à população que fugisse da cidade. No entanto, nem todos os civis conseguiram sair.
As ONGs e a ONU expressaram várias vezes preocupação com a violência nos combates e os riscos enfrentados pelos civis em Lashkar Gah, também sujeito a bombardeios aéreos por parte do Exército afegão.
Considerando que as cidades caíram sem resistência e que muitos soldados deixaram seus postos sem lutar, o general Sadat continua otimista.
"Porque sei que vamos vencer. Sei que este é o nosso país, que o talibã vai fracassar mais cedo, ou mais tarde", disse Sadat.
Ele entendeu que a batalha da imagem é pelo menos tão importante quanto a que é travada no chão.
"Acho que Lashkar Gah está se tornando um fator unificador entre os amantes da liberdade, patriotas e afegãos. Tenho muito orgulho disso", completou.
* AFP