A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, desembarcou no Vietnã nesta terça-feira (24), depois que um "incidente de saúde anômalo" em Hanói atrasou seu vôo de Singapura, informou a embaixada em uma aparente alusão à chamada "síndrome de Havana".
Harris está no Vietnã em uma viagem pelo Sudeste Asiático, na qual busca ganhar a confiança de aliados regionais em potencial, enquanto o status de superpotência dos Estados Unidos foi obscurecido pelo Afeganistão.
"A delegação de viagem da vice-presidente atrasou a saída de Singapura, porque o gabinete da vice-presidente foi alertado de um informe sobre um recente possível incidente anômalo de saúde em Hanói", declarou a embaixada em um comunicado.
"Depois de cuidadosa análise, a decisão tomada foi continuar a viagem da vice-presidente", completou a nota.
A expressão "incidente de saúde anômalo" foi usada no passado para descrever a chamada "síndrome de Havana". Esta síndrome incluiria um conjunto de sintomas, como vertigem, náusea, ou problemas auditivos, que começaram a ser denunciados por diplomatas americanos em Havana, a partir de 2016. A origem desses problemas não foi estabelecido.
Em Singapura, Harris acusou Pequim de coerção e intimidação no disputado Mar da China Meridional, solicitando apoio para enfrentar o gigante asiático.
"Pequim continua a coagir, intimidar e reivindicar a grande maioria do Mar da China Meridional", acusou Harris enquanto apresentava as metas de política externa de seu governo para a Ásia.
"As ações de Pequim continuam minando a ordem e ameaçando a soberania das nações. Os Estados Unidos apoiam nossos aliados e parceiros diante dessas ameaças", completou no segundo dia de sua visita a Singapura.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, acusou o governo dos Estados Unidos de esconder-se por trás da retórica de uma ordem global basada em regras para defender seu "comportamento hegemônico e de intimidação".
"Para defender o 'America First', Estados Unidos podem difamar, oprimir, coagir e intimidar arbitrariamente outros países sem pagar qualquer. Esta é a ordem que desejam (...) Mas quem vai acreditar agora?", afirmou Wang Wenbin, em uma referência à intervenção no Afeganistão.
"O governo dos Estados Unidos pode executar uma intervenção militar sem sentido em um país soberano e não sentir responsabilidade pelo sofrimento das pessoas neste país", disse Wang.
A China reivindica a soberania sobre quase todo este mar, pelo qual transitam bilhões de dólares por ano em comércio, disputado por outros quatro países do sudeste asiático e por Taiwan.
Pequim foi acusada de enviar equipamento militar para lá - incluindo lançadores de mísseis - e de ignorar uma decisão de um tribunal internacional de 2016 que considerou sua reclamação sobre a maioria de suas águas infundada.
Nos últimos meses aumentaram as tensões entre a China e os outros países demandantes.
O governo das Filipinas expressou irritação quando centenas de embarcações chinesas foram detectadas em sua zona econômica exclusiva, enquanto a Malásia enviou aviões de combate para interceptar aeronaves militares chinesas que apareceram nas proximidades de sua costa.
Washington também quer tranquilizar seus aliados diante dos temores de uma possível escalada, em decorrência da retirada caótica de suas tropas do Afeganistão.
- "Decisão corajosa e correta" -
"Nosso compromisso na Ásia, no sudeste da Ásia e na região do Indo-Pacífico não se dirige contra nenhum país e não pretende obrigar ninguém a escolher entre os países", destacou.
O secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, também visitou Singapura em julho e criticou duramente a China por suas reivindicações marítimas.
Mas a crise no Afeganistão reforçou as dúvidas sobre a credibilidade do apoio de Washington, o que virou uma grande sombra durante a visita de Harris.
Kamala Harris defendeu a decisão do presidente Joe Biden de prosseguir com a retirada de tropas do Afeganistão, que chamou de medida "corajosa e correta".
Ela argumentou que a administração americana está "completamente focadas" na caótica retirada de afegãos e estrangeiros do aeroporto de Cabul após o retorno ao poder dos talibãs.
A vice-presidente americana anunciou que Washington se oferece para receber em 2023 a reunião anual do Fórum de Cooperação Econômica Asia-Pacífico (APEC), que inclui China.
Durante o último dia da visita a Singapura, ela se reuniu com empresários.
* AFP