Os Estados Unidos realizaram um ataque "defensivo" com drones a um veículo carregado de explosivos neste domingo(29) em Cabul para "eliminar uma ameaça iminente" do grupo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K) contra o aeroporto, informou o Pentágono, o que aumenta a tensão na capital do Afeganistão a apenas dois dias do fim das operações de retirada de milhares de civis do aeroporto da cidade.
"As forças dos EUA realizaram hoje um ataque aéreo defensivo com drones", lançado de fora do Afeganistão, "contra um veículo em Cabul, eliminando uma ameaça iminente do EI-K ao aeroporto internacional", disse Bill Urban, porta-voz do Comando Central americano.
O ataque foi confirmado por um porta-voz do Talibã, que disse que um carro-bomba com destino ao aeroporto foi destruído e que um possível segundo ataque atingiu uma casa próxima.
Na quinta-feira, um ataque suicida no aeroporto reivindicado pelo EI-K matou mais de cem, incluindo 13 soldados americanos.
"Temos certeza de que atingimos o alvo", acrescentou.
"Estamos verificando a possibilidade de vítimas civis", disse ele, e especificou que "não há indicações neste momento" a esse respeito.
"As explosões secundárias significativas do veículo indicaram a presença de uma quantidade substancial de material explosivo", acrescentou. "Permanecemos atentos a possíveis ameaças futuras".
Neste domingo também foi revelado que o líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, que nunca apareceu em público, está no Afeganistão, na cidade de Kandahar.
"Posso confirmar que ele está em Kandahar. Ele esteve desde o início", disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid. "Ele aparecerá em público em breve", disse o vice-porta-voz Bilal Karimi.
Akhundzada é chefe do Talibã desde 2016, quando emergiu da relativa obscuridade para supervisionar o movimento.
- Biden na base militar -
Na manhã deste domingo, Biden e sua esposa, Jill, estavam com as famílias dos militares mortos na base militar de Dover, no leste de Washington, quando receberam a notícia do último ataque aéreo.
Quase 114.000 pessoas foram retiradas do país desde que os talibãs assumiram o poder há duas semanas.
A operação aérea liderada pelos Estados Unidos deve terminar na terça-feira 31 de agosto, o que significa que milhares de pessoas podem permanecer em Cabul, em sua maioria afegãos que temem represálias porque trabalharam para as potências estrangeiras.
O secretário de Estado, Antony Blinken, declarou neste domingo ao canal ABC que "300 americanos ou menos" continuam no Afeganistão.
Cerca de 100 países anunciaram neste domingo que os talibãs se comprometeram a permitir que todos os estrangeiros e afegãos habilitados se instalem em outros lugares, mesmo após a saída das tropas americanas.
- Uma zona segura?-
O aeroporto, última área controlada pelas forças estrangeiras no Afeganistão, não registra mais as imagens caóticas de milhares de pessoas desesperadas tentando sair do país.
Criticado em seu país e no exterior pela gestão da retirada do Afeganistão, Biden se comprometeu a respeitar a data-limite. Otan e União Europeia solicitaram uma prorrogação de alguns dias para conseguir retirar todos os afegãos aptos a receber proteção ocidental.
França e Reino Unido defenderão na segunda-feira, em um encontro do Conselho de Segurança da ONU, a criação de uma "zona segura" em Cabul para permitir a continuidade das operações humanitárias após 31 de agosto, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron.
"Isto estabeleceria um marco às Nações Unidas para atuar em caráter de urgência e permitiria, sobretudo, a cada um assumir suas responsabilidades e à comunidade internacional manter a pressão sobre os talibãs", disse Macron.
Muitos países, incluindo, França, Itália, Espanha, Alemanha, Canadá e Austrália, já concluíram suas operações de retirada. Algumas nações admitiram que deixaram civis afegãos que correm perigo no país.
O papa Francisco pediu neste domingo, durante a tradicional oração do Angelus, que o mundo continue ajudando os afegãos. O pontífice rezou por uma "coexistência pacífica e de esperança" no país.
Com o retorno ao poder, os talibãs tentam apresentar uma imagem mais aberta e moderada. Muitos afegãos, no entanto, temem a repetição do regime fundamentalista e brutal imposto entre 1996 e 2001, quando o Talibã foi derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
* AFP