O Turcomenistão, onde a imprensa estatal bajula o presidente e uma estátua de ouro do animal de seu filho é construída, parece caminhar para virar um dinastia política, como outras ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central.
Este país rico em combustíveis, considerado um dos mais repressivos do mundo, é conhecido pelo culto à personalidade que cerca o presidente, Gurbanguly Berdymukhamedov, de 63 anos.
Na televisão turcomana ele aparece com frequência tocando música ou praticando esportes. Também já foi visto atirando com uma metralhadora, ou dirigindo em alta velocidade pelo deserto.
A recente promoção de seu filho antecipa um crescente nepotismo.
Em fevereiro, Serdar Berdymukhamedov, de 39 anos, foi nomeado auditor-chefe, vice-primeiro-ministro e membro do Conselho de Segurança Nacional.
As funções o transformam no "número dois, atrás apenas do presidente", explica à AFP Russlan Miatiyev, do site independente Turkmen News, que tem sede na Holanda.
Serdar Berdymukhamedov, único filho homem do chefe de Estado, que também tem três filhas, combinará os cargos com o de diretor de uma associação que promove uma raça de cão (alabai) da Ásia Central.
Em novembro, uma estátua de ouro gigante foi inaugurada na capital, Ashgabat, em homenagem ao cão que é considerado um símbolo nacional.
Até 2016, quando Serdar Berdymukhamedov foi eleito para o Parlamento, os turcomanos não sabiam que ele seguia uma carreira política.
Em suas primeiras aparições na TV ele "parecia bastante perdido", afirma Russlan Tukhbatullin, diretor de redação do Chronicles of Turkmenistan, também com sede na Holanda. Desde então, sua imagem foi "trabalhada", mas ele é menos apegado às câmeras que seu pai.
- Um neto favorito -
O neto favorito do presidente, Kerimguly Berdymukhamedov, também chama a atenção.
Em dezembro, uma câmera flagrou o adolescente fazendo um boneco de neve com o avô.
Eles já compuseram e interpretaram juntos na televisão várias canções, uma delas sobre os cavalos turcomanos, outro tesouro nacional.
No ano passado, o neto recebeu um prêmio por ter enriquecido "a arte nacional com novas obras" e "performances de sucesso em eventos festivos".
"Berdymukhamedov usa a televisão pública como um Instagram defasado. Assim como alguns pais elogiam os filhos nas redes sociais, ele mostra seus netos na televisão", afirma Russlan Tukhbatullin.
Gurbanguly Berdymukhamedov, dentista de formação, chegou ao poder em 2006, após a morte de Saparmurat Niazov. Este último havia modificado o nome de um mês do ano em homenagem a sua mãe, mas deixou a família em segundo plano.
- Famílias emergentes -
Entre as ex-repúblicas soviéticas, apenas o Azerbaijão, no Cáucaso, teve dois presidentes da mesma família: o líder atual, Ilham Aliyev, sucedeu ao pai, Heydar Aliyev, falecido em 2003.
No Tadjiquistão, o país mais pobre da Ásia Central, também há uma dinastia.
Rustam Emomali, filho mais velho do presidente Emomali Rajmon, comanda o Senado. Muitos acreditam que será o chefe de Estado interino, caso o pai, no poder desde 1992, não possa governar.
No Cazaquistão, o ex-chefe de Estado Nursultan Nazarbayev, de 80 anos, permanece muito influente e comanda o partido governista, apesar de ter deixado a presidência de maneira surpreendente em 2019.
Um de seus colaboradores, Kasym-Jomart Tokayev, sucedeu-lhe, e sua filha, Dariga Nazarbayeva, foi eleita deputada em janeiro. Seu sobrinho, Samat Abich, é vice-diretor das forças de segurança.
Nazarbayev poderá preparar uma sucessão "coletiva" a longo prazo entre parentes, opina o cientista político Talgat Mamiraimov.
Mas é difícil prever o que acontecerá nestes países.
No Uzbequistão, muitos pensavam que a filha do falecido presidente Islam Karimov, Gulnara, sucederia ao pai, mas ela caiu em desgraça e atualmente cumpre uma pena de 13 anos de prisão por fraude.
* AFP