Os centro-africanos comparecem às urnas neste domingo (27) para escolher um novo presidente e os deputados, em eleições que ocorreram sem grandes incidentes, apesar das dificuldades de votar em um país marcado pela guerra civil e um profundo nível de pobreza.
Grupos rebeldes ameaçaram se deslocar até Bangui, a capital do país, para impedir a votação, mas a presença de paramilitares russos, soldados ruandeses e capacetes azuis da ONU mantiveram os insurgentes à distância.
"Em geral, a votação aconteceu os eleitores compareceram às seções. Houve grande interesse (...) apesar dos pequenos problemas de segurança em alguns lugares", disse à AFP a diretora geral da Autoridade Nacional das Eleições (ANE), Momokoama Théophile.
A maioria das seções de voto, exceto algumas que abriram com atraso, fechou as portas à tarde em Bangui.
O anúncio dos primeiros resultados está previsto para 4 de janeiro, embora os resultados finais só serão conhecidos em 19 de janeiro. Se necessário, um segundo turno poderá ser realizado em 14 de fevereiro.
O atual presidente, Faustin Archange Touadera, é o grande favorito, mas os grupos rebeldes, que controlam dois terços do território, desejam impedir sua reeleição.
Neste domingo, os grupos armados receberam o apoio público do ex-presidente François Bozizé, que teve a candidatura invalidada no início do mês. Depois de negar envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, ele defendeu o boicote das eleições.
- Violência, êxodo e diamantes -
A legitimidade das eleições está em dúvida, no entanto, porque uma parte importante da população não poderia exercer seu direito ao voto sem medo, de acordo com analistas e fontes da oposição.
Longe da capital, a votação era incerta pelos combates que não dão trégua. Além disso, milhares de cidadãos não receberam os documentos que permitem votar devido ao clima de insegurança.
Na região noroeste do país, os rebeldes também confiscaram material eleitoral para tentar impedir o pleito.
"O discurso oficial é que tudo correu bem em Bangui e que devemos esquecer do resto. Mas os grupos armados fizeram a população de refém", declarou à AFP Roland Marchal, do Centro de Pesquisas Internacionais do instituto Sciences Po de Paris.
O país africano tem no momento 11.500 capacetes azuis, 300 soldados de Ruanda e 300 "instrutores militares" enviados pela Rússia, na verdade paramilitares de empresas privadas de segurança.
Contra o favorito Touadera, 15 candidatos de oposição acusam o atual chefe de Estado de fraude e de fazer tudo para vencer no primeiro turno.
União Europeia, Estados Unidos, Rússia, França e o Banco Mundial pediram a Bozizé e aos grupos rebeldes que entreguem as armas.
Desde o início da guerra civil no país, quando uma coalizão muçulmana chamada Seleka derrubou Bozizé, 25% dos 4,9 milhões de centro-africanos foram obrigados a fugir de suas casas em algum momento e milhares morreram em ataques violentos.
Os combates entre Seleka e as milícias cristãs levaram a ONU a acusar os dois lados de crimes de guerra e contra a humanidade. Desde 2018 a guerra perdeu intensidade, mas os grupos armados continuam executando ataques contra civis e para tentar assumir o controle dos recursos naturais do país, sobretudo diamantes.
* AFP