O jornalista ganhador do Prêmio Pulitzer Glenn Greenwald, 53 anos, anunciou nesta quinta-feira (29) sua saída de The Intercept, após o site americano se recusar a publicar um artigo escrito por ele com críticas ao candidato democrata à presidência americana, Joe Biden.
Greenwald, conhecido por ter sido um dos primeiros jornalistas a reportar os documentos vazados por Edward Snowden sobre a Agência de Segurança Nacional americana (NSA), em 2013, informou que está deixando o site, que fundou no ano seguinte com dois colegas.
"Os editores do Intercept, violando meu direito contratual de liberdade editorial, censuraram um artigo que escrevi esta semana, recusando-se a publicá-lo a não ser que eu removesse todos os trechos com críticas ao candidato democrata à presidência, Joe Biden", relatou Greenwald em seu blog.
Segundo Greenwald, o artigo se referia a depoimentos e e-mails revelados recentemente e que envolvem a conduta de Hunter Biden, filho do candidato democrata, acusado de ter monetizado o acesso a seu pai.
Para aqueles que vivem no Brasil, este episódio ilustra "o vírus que infectou quase todos os veículos de comunicação e instituições acadêmicas de centro-esquerda", declarou o jornalista. "As mesmas tendências à repressão, censura e homegeneidade ideológica que atingem a imprensa nacional em geral chegaram ao veículo que fundei, com a censura a um de meus artigos", criticou Greenwald.
Os e-mails que envolviam Hunter Biden foram publicados em um artigo do New York Post cuja divulgação no Twitter foi restringida pela rede social. Os diretores da plataforma alegaram que o artigo violava várias de suas regras. O Facebook também bloqueou os links para o texto.
Os principais veículos de comunicação dos EUA foram criticados por conservadores por suas reportagens escassas sobre esses e-mails, entregues ao New York Post por Rudy Giuliani, advogado do presidente norte-americano e candidato à reeleição Donald Trump. Para Greenwald, o jornalismo de hoje está "em crise, paralisado" pelo que vê como domínio de uma corrente de pensamento que enfraquece a liberdade de expressão e o direito de resposta.
A equipe editorial do Intercept afirmou que a edição do artigo tinha a intenção de garantir que o mesmo fosse "justo e preciso", por considerar que o texto tentava "reciclar as afirmações questionáveis da equipe de campanha de Trump e transformá-las em jornalismo. Foi Glenn que perdeu suas raízes jornalísticas".
O Intercept foi criado por Greenwald e pelo grupo First Look Media, do multimilionário franco-americano Pierre Omidyar, fundador do eBay.