Entre o aumento de infecções, equipamento de proteção escasso e o estresse, os profissionais da saúde que combatem a pandemia de coronavírus na África trabalham sob forte pressão. Esta é a situação em três países:
- África do Sul -
Segundo o ministério da Saúde da África do Sul, mais de 2.000 profissionais do setor contraíram o vírus e pelo menos 17 morreram. Quase 80% das infecções ocorreram na província de Cabo Ocidental, a principal fonte de infecção do país.
Um médico de uma clínica pública no município de Khayelitsha, na Cidade do Cabo, disse à AFP que o fornecimento de equipamentos de proteção estava atrasado e que os médicos estão sob forte estresse.
"Seus colegas são infectados, a morte de um parceiro é algo que afeta, necessariamente", disse ele após solicitar o anonimato.
"Se você está em uma zona de guerra e um soldado é baleado e você tem que ir no dia seguinte para a mesma zona de guerra com essa memória, é pesado", afirmou.
De acordo com o presidente do sindicato regional de funcionários de hospital, Gerald Lotriet, seis greves foram realizadas na província de Cabo Ocidental esde abril e 7.000 funcionários deixaram seus empregos diante do risco de contágio.
"Algumas enfermeiras me disseram: 'se eu soubesse da COVID-19, teria entrado para o exército'", disse à AFP. "No exército, se houver uma bomba, você precisa fugir e, no nosso caso, eles nos dizem que você precisa se lançar sobre ela", argumentou.
O sindicato nacional de enfermagem planeja registrar uma queixa contra um hospital por expor seus trabalhadores ao vírus, segundo seu secretário-geral, Cassim Lekhoathi.
"Os setores público e privado são deficientes. Adquiriram EPI [equipamento de proteção], mas na linha de frente não há disponível", disse ele à AFP. "Realmente, é uma pena que nossos membros tenham que recorrer à greve, que é a última coisa desejável no meio de uma pandemia", explicou ele.
- Nigéria -
Na Nigéria, o país mais populoso da África, há mais de 800 casos e 11 mortes entre profissionais da saúde, segundo a Agência Nacional de Controle de Doenças (NCDC).
Os médicos dos hospitais públicos, que muitas vezes estão muito deteriorados e subfinanciados, iniciaram uma greve a segunda-feira para protestar contra as más condições de trabalho, incluindo a falta de equipamento de proteção.
"Somos uma espécie em extinção. Nossos membros precisam enfrentar riscos diários de infecção porque não há EPIs suficientes", disse à AFP uma pessoa encarregada da Associação Médica da Nigéria.
"Em Lagos, alguns trabalhadores da saúde foram detidos pela polícia por supostamente violar o toque de recolher" durante o confinamento, acrescentou.
E à medida que o número de infecções aumenta, o país está ficando sem leitos em salas de isolamento. Em breve não haverá nenhum.
O diretor do NCDC, Chikwe Ihekweazu, insistiu que as autoridades estavam fazendo todo o possível para garantir equipamentos de proteção suficientes.
Quase 16.000 profissionais da saúde foram treinados para combater o vírus, e as autoridades aconselham as pessoas com COVID-19 a ficar em casa, em vez de isolá-las em um hospital.
"A pandemia representou um desafio significativo para os sistemas de saúde em todo o mundo", disse Ihekweazu à AFP. "Ainda estamos aprendendo muito", concluiu.
- Quênia -
Representantes do setor de saúde no Quênia também afirmam que há cada vez mais casos de coronavírus entre os profissionais de saúde.
Segundo o Dr. Chibanzi Mwachonda, secretário-geral interino da União de Médicos, Farmacêuticos e Dentistas do Quênia, a maioria dos médicos infectados não trabalha em hospitais onde a COVID-19 é tratada.
Muitos trabalhadores foram infectados na emergência e nos blocos operatórios por pacientes que estavam sendo tratados por outros problemas, disse ele.
Em todo o país, greves e manifestações foram realizadas nas últimas semanas, para protestar contra a falta de equipamentos.
No entanto, a mobilização durou pouco, pois o governo prometeu usar parte dos 2 bilhões de dólares do fundo de emergência para garantir que o setor de saúde tenha "o material e o pessoal médico necessários" para enfrentar a pandemia.
* AFP