O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes por formação de organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro, em mais uma etapa da investigação da Lava-Jato, no Rio de Janeiro. Além de Cartes, outras 19 pessoas foram acusadas, entre elas Dario Messer, considerado o "doleiro dos doleiros", que operava pelo menos desde os anos 2000 no Brasil, Uruguai e Paraguai, com a prática de câmbio ilegal e evasão de divisas.
Messer, que esteve foragido por 14 meses antes de ser preso em julho de São Paulo, é considerado o líder da rede de lavagem de dinheiro e estaria associado a Cartes, um rico empresário, de 64 anos, que governou o Paraguai entre 2013 e 2018. O MPF afirma que Cartes ajudou Messer quando o doleiro estava foragido, transferindo 500 mil dólares "para seus gastos jurídicos", através de um amigo em comum.
Entre os 19 denunciados, há 11 brasileiros, sete paraguaios e um paraguaio naturalizado uruguaio. A investigação identificou que mais de 34 milhões de dólares foram administrados pela rede: 14,6 milhões pelo uruguaio Najun Turner e 20 milhões pelo paraguaio Lucas Paredes. Os promotores determinaram também que a ramificação da organização de Messer no Paraguai "era tão poderosa" que ocultou grandes somas de dinheiro e financiou sua fuga.
Em 29 de novembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou um pedido de prisão preventiva contra Cartes, que havia sido solicitada 10 dias antes pelo Ministério Público no Rio de Janeiro.
A denúncia da promotoria obriga o presidente paraguaio a responder à Justiça brasileira. A Constituição do Paraguai estabelece que ex-presidentes se tornem senadores vitalícios com privilégios parlamentares. Para retirar a imunidade, é necessário voto de dois terços do Senado — que tem 45 integrantes, e o partido governista Colorado, ao qual Cartes pertence, tem a maioria.