Não poder embarcar é sempre frustrante, mas, no aeroporto de Hong Kong, muitos viajantes que tiveram voos cancelados graças aos protestos que acontecem desde o final de semana expressaram sua solidariedade com os ativistas.
— É decepcionante porque esperávamos ter voado hoje. Mas não dá para fazer nada. Eles têm direito de se manifestar. É seu território, nós estamos apenas de passagem — disse Nathan, filipino de 31 anos, que passou quatro dias na ex-colônia britânica.
Oitavo aeroporto internacional mais frequentado do mundo, com 74 milhões de passageiros em 2018, o terminal aéreo de Hong Kong anulou todos os voos nesta segunda-feira (12). Uma manifestação de 5 mil pessoas prejudicou as atividades do aeroporto. Alguns deles invadiram as salas de embarque.
Os voos foram retomados progressivamente na manhã nesta terça (13), mas à tarde o aeroporto de Hong Kong suspendeu de novo todas as decolagens.
A ex-colônia britânica atravessa sua crise política mais grave desde sua reanexação à China em 1997. O movimento - que surgiu no começo de junho em rejeição a um projeto de lei que autorizaria extradições para Pequim — ampliou suas reivindicações para denunciar a redução de liberdades e as ingerências da China nos assuntos internos.
Protesto começou na sexta-feira
Os manifestantes começaram uma sessão de protesto pacífico na sexta-feira nos corredores do aeroporto, para sensibilizar os viajantes sobre seu movimento.
Assim que a alfândega passou, os visitantes eram surpreendidos por uma multidão de manifestantes vestidos de preto, que sorriram, cantaram, entregaram panfletos e os tornaram uma espécie de guarda de honra. Esta ação não afetou o tráfego aéreo até segunda-feira à tarde, quando voos foram cancelados.
A maioria dos viajantes afetados foi, no entanto, simpática.
— Isso me impactou, mas sei por que eles fazem isso, e eu os apoio — disse Mag Mak, um publicitário de 27 anos cujo voo saiu de Dubai com atraso de cinco horas.
— Acho que o governo é nulo e não tem resposta para dar aos manifestantes — acrescentou.
— Esses manifestantes são as pessoas mais adoráveis do mundo — disse sorrindo Pete Knox, de 65 anos, que faz uma volta ao mundo de 10 meses com sua bicicleta.
Ele deve viajar para a cidade de Ho Chi Minh, mas não tem certeza de que seu avião decolará.
— Eu entendo o pano de fundo de sua mobilização, que se refere à liberdade e à democracia, duas coisas muito importantes — opinou.
Tibor, um agente imobiliário que mora em Hong Kong há muito tempo e que cancelou seu voo no dia anterior, diz que entende perfeitamente esse movimento "porque é chato viver em uma sociedade cujo governo não dialoga com seu povo".
Nas últimas manifestações, houve muitos confrontos entre radiciais e a político, mas a mobilização se caracterizou pelas enormes e pacíficas marchas. Também ocorreram algumas marchas em resposta, de apoio à polícia e ao governo, e raramente foram registrados confrontos entre manifestantes e residentes que apoiam Pequim.
Alguns passageiros expressaram à AFP seu descontentamento com os atrasos.
— Não tenho nada contra os manifestantes, mas tenho um atraso de cinco horas — queixa-se Wing Au-yeung, de 50 anos, que fez escala em Hong Kong para encontrar sua mãe antes de partir para a Coreia do Sul em família.
— Eles fazem o que querem, mas não deveriam incomodar as pessoas — acrescentou.