Dezenas de pessoas se reuniram com dor e indignação neste sábado em frente a um necrotério em Acarigua, um dia depois que 29 prisioneiros morreram em um motim numa delegacia de polícia na cidade venezuelana.
Reunidos em frente ao portão de entrada do necrotério do hospital Jesús Maria Casal Ramos, os familiares procuraram informações dos mortos e exigiram que os corpos fossem entregues para o enterro.
— Mataram meu filho. De quem é a culpa? É falta de supervisão, falta de governo sério, porque o governo não é sério — disse entre lágrimas Zuleyma Ponte, 50 anos.
— Na delegacia, o que se viu foi um massacre contra essas criaturas — complementou Zuleyma, afirmando que na sexta-feira (24) várias pessoas perto da DP ouviram os detentos gritar "não nos deixem morrer ".
Segundo o secretário de Segurança Pública, Óscar Valero, os 29 presos morreram na sexta-feira em um confronto quando agentes das Forças de Ação Especial da Polícia Nacional (Faes) intervieram para controlar uma "tentativa de fuga em massa".
A falta de transparência, segundo agências de notícias, é comum diante de casos como esse. O Ministério de Assuntos Penitenciários não costuma dar informações, alegando que centros de detenção como o de Acarigua não estão sob sua responsabilidade.
Na delegacia onde foi ocorreu a chacina, a capacidade é para 60 pessoas, mas havia cerca de 500, segundo relatório policial interno ao qual a AFP teve acesso.
Condenações de defensores de Direitos Humanos
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou no Twitter "sua especial preocupação pelos altíssimos níveis de violência nas prisões na Venezuela" e pediu "medidas imediatas que garantam a vida" dos presos.
As investigações devem apontar não somente os responsáveis materiais e intelectuais, como também as "autoridades responsáveis pela ação ou omissão", informou a CIDH, ente autônomo da Organização de Estados Americanos.
A diretora da Anistia Internacional para as Américas, Érika Guevara Rosas, escreveu no Twitter que o fato de as pessoas estarem "sob a custódia do Estado, deixa o governo de Nicolás Maduro como principal responsável por essas mortes".