O presidente Omar al-Bashir, que governou o Sudão com mão de ferro por 30 anos, foi derrubado nesta quinta-feira (11) por um golpe militar após um levante popular, e substituído por um "conselho militar de transição", que dirigirá o país por dois anos.
_ Eu anuncio, como ministro da Defesa, a queda do regime e prendo seu chefe em um lugar seguro _ disse o ministro da Defesa, Awad Ibnouf, em pronunciamento na televisão estatal.
Durante toda a manhã, uma multidão de sudaneses permaneceu no centro da capital sudanesa, antecipando o anúncio da destituição do presidente, de 75 anos. Contudo, os líderes do movimento de contestação rejeitaram o golpe de Estado militar e prometeram continuar com as manifestações. "O regime realizou um golpe de Estado militar apresentando os mesmo rostos (...) contra os quais nosso povo se levantou", denunciou em um comunicado a Aliança pela Liberdade e a Mudança. "Nós pedimos ao povo que continue a mobilização em frente ao quartel-general do Exército (em Cartum) e em todo o país", acrescentou.
A União Africana (UA) também criticou a destituição do presidente sudanês afirmando que "o golpe militar não é a resposta adequada aos desafios enfrentados pelo Sudão e às aspirações do povo". Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que a transição no Sudão cumpra as "aspirações democráticas" de seu povo, segundo o seu porta-voz. Guterres pediu "calma e máxima moderação de todos".
O governo de Washington pediu que o exército sudanês integre civis no novo governo.
— Os Estados Unidos continuam pedido às autoridades de transição que mostrem moderação e abram espaço para uma participação dos civis no governo — declarou à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado, Robert Palladino.
Bashir, que governou o país desde que assumiu o poder em um golpe em 1989, foi expulso depois que a força militar não conseguiu encerrar quatro meses de protestos em todo o país pedindo sua saída. "O regime caiu""O regime caiu, o regime caiu!", comemoraram os sudaneses reunidos no centro da capital.
Em pleno marasmo econômico, o Sudão é palco desde dezembro de manifestações motivadas pela decisão do governo de triplicar o preço do pão. A contestação logo se transformou em um movimento pedindo a queda de Bashir, que há anos é alvo de ações judiciais internacionais.
Anúncio de conselho militar
provisório por dois anos
Desde sábado, milhares de manifestantes exigiam, em frente ao quartel-general do Exército, o apoio dos militares. A televisão estatal interrompeu esta manhã sua programação normal para informar "um importante anúncio das Forças Armadas", que finalmente foi feito no início da tarde.
Além da destituição do presidente, o ministro da Defesa anunciou sua substituição "por um conselho militar provisório por dois anos e a suspensão da constituição de 2005 no Sudão". Também anunciou "um estado de emergência em todo o país por três meses e o fechamento das fronteiras e do espaço aéreo do país até que um novo anúncio seja feito".
Ibnouf disse que o conselho militar também declarou um cessar-fogo nacional, que inclui as regiões devastadas pela guerra de Darfur, Nilo Azul e Kordofan do Sul, onde o governo de Bashir lutava há tempos contra rebeldes de minorias étnicas. Os militares também decidiram impor um toque de recolher noturno no país.
Em 2009, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandado de prisão contra Omar al-Bashir por "crimes de guerra" e "contra a humanidade" em Darfur, antes de acrescentar em 2010 a acusação de "genocídio". O conflito em Darfur deixou mais de 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados, segundo a ONU.
Pouco antes do anúncio do ministro da Defesa, o serviço de inteligência do Sudão (NISS), ponta de lança da repressão às manifestações, havia divulgado a libertação de todos os presos políticos no país, segundo a agência oficial Suna. No total, 49 pessoas morreram devido à violência ligada às manifestações, segundo responsáveis locais. A ONG Human Rights Watch divulgou balanço de 51 mortos, incluindo crianças.
"O povo quer a queda do regime", gritaram durante a noite os manifestantes em Cartum, que fizeram o "V" da vitória e usaram os telefones celulares para iluminar o local.