O governo britânico voltará a apresentar aos deputados, nesta sexta-feira (29), pela terceira vez, o acordo de Brexit negociado pela primeira-ministra Theresa May com a União Europeia (UE), quando termina o prazo acordado por Bruxelas para estender a saída para maio.
— Haverá um debate sobre uma moção sobre a saída do Reino Unido da União Europeia — anunciou na quinta-feira (28) a ministra das Relações com o Parlamento, Andrea Leadsom, aos deputados que já rejeitaram o texto duas vezes.
O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, aprovou na quinta-feira que os deputados votem na sexta o acordo de divórcio.
— A moção é nova, substancialmente diferente — disse Bercow ao Parlamento, depois que o governo de Theresa May propôs debater apenas o Acordo de Saída assinado com Bruxelas, e não a declaração política sobre o futuro relacionamento entre as duas partes que normalmente o acompanha.
Depois de acordar a Londres um curto adiamento da data de saída, inicialmente agendada para esta sexta-feira, a UE advertiu que a Grã-Bretanha deveria adotar esta semana o Tratado de Retirada se aspira a uma extensão do Brexit até 22 de maio. Caso contrário, deverá enviar um plano B antes de 12 de abril, ou aceitar um Brexit sem acordo.
Para ter esperanças de que o texto seja aprovado, May precisa convencer pelo menos 75 de seus próprios legisladores rebeldes. Muitos deles pediram que a premiê deixe o governo e a negociação com Bruxelas. Na quarta-feira (27), apostando sua última carta, May prometeu renunciar assim que o país deixar a UE.
A estratégia conseguiu convencer alguns dos críticos mais ferozes do acordo, confrontados agora à possibilidade de que o país, mergulhado no caos político pela incapacidade de chegar a uma conclusão, termine negociando um Brexit mais suave, ou convocando um segundo referendo.
Entre eles, o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, que renunciou em 2018 por sua oposição à maneira como May conduzia as negociações com a UE e que, desde então, tornou-se um de seus principais rivais.
"Johnson tem toda razão ao dizer que o risco palpável de perder o Brexit, somado à possibilidade de uma mudança na próxima fase (de negociação), significa que não temos escolha a não ser votar", tuitou na quarta-feira seu amigo e também deputado conservador Conor Burns.
O "não" do DUP
Theresa May ainda precisa convencer especialmente o partido unionista norte-irlandês do DUP, de cujos 10 deputados depende sua maioria parlamentar.
O DUP considera inaceitável o chamado "bacsktop" irlandês, o ponto mais controverso do acordo, um mecanismo de último recurso para impedir a restauração de uma fronteira dura na ilha da Irlanda que colocaria em risco o frágil acordo de paz de 1998. O partido anunciou na quarta-feira que rejeitaria mais uma vez o texto.
"Uma vez que as mudanças necessárias que queremos não foram acordadas entre o governo e a União Europeia (...) não vamos apoiar o governo, se organizar uma nova votação", disse em um comunicado.
O acordo, com o qual May espera encerrar 46 anos de integração britânica na UE, é um calhamaço de 585 páginas, 185 artigos e três protocolos. Inclui, entre outras questões, os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e vice-versa, a conta de 39 bilhões de libras que Londres deve pagar e o polêmico "backstop".
Prevê também um período de transição, até o final de 2020, mas que poderá ser prorrogado por um período máximo de dois anos, para que as empresas e os governos tenham tempo para fazer as adaptações necessárias. Esse período será necessário também para que Londres e Bruxelas possam negociar os termos de sua futura relação nas áreas de comércio, política externa, ou cooperação policial.