Há 50 anos, em 5 de janeiro de 1968, Alexander Dubcek, um "apparatchik" diferente dos outros, fazia nascer em Praga um sonho tão bonito quanto efêmero de um "socialismo com rosto humano", rapidamente destruído sem piedade pelos tanques soviéticos.
Com um charmoso sorriso que se distinguia da expressão carrancuda de seus camaradas, esse eslovaco de 46 anos substitui o dogmático Antonin Novotny à frente do Partido Comunista da Tchecoslováquia (KSC), bastante impopular no meio intelectual em Praga e entre seus concidadãos, que reivindicam mais autonomia nesse Estado binacional.
O que parece ser, à primeira vista, uma questão banal entre facções comunistas traz um vento de reformas tímidas, mas inéditas, nesse país do bloco do leste dominado por Moscou, cuja fronteira ocidental com a Áustria e com a República Federal da Alemanha (RFA) faz parte da "cortina de ferro".
"Dubcek é, sem dúvida, o símbolo do que chamamos de 'Primavera de Praga', mas seu papel histórico é mais complicado", ressalta o historiador Oldrich Tuma.
"Ele saía, ia à piscina pública e se juntava às pessoas comuns para assistir aos jogos de futebol e de hóquei sobre o gelo. Mas tinha uma visão política clara? Ele era comunista e nunca quis sair desse enquadramento", afirma.
"Eu sempre o considerei um homem honesto e de caráter, mas também alguém indeciso, mais um símbolo do que um protagonista dos acontecimentos", comenta a socióloga Jirina Siklova.
- Ira do Kremlin -
Confrontada com uma forte insatisfação da população, em meio às dificuldades econômicas constantes, a direção reformulada do KSC com Dubcek começa com uma reforma econômica prudente. Esse movimento dispara sinais de alerta e irritação na cúpula em Moscou.
Praga suspende a censura, o que leva imediatamente a uma liberalização sem precedentes da imprensa e das atividades culturais. Não demoram a surgir organizações não comunistas, como o "K 231", de ex-presos políticos, e KAN, o "Clube dos Sem-Partido", germes de partidos de oposição.
"De repente não mais amordaçada, a imprensa começou a questionar e abrir temas totalmente impensáveis alguns meses antes. Isso suscitava grande esperança em toda sociedade, esperança que ultrapassava, amplamente, os objetivos iniciais de Dubcek", analisa Tuma, acrescentando que pouco a pouco o novo líder do KSC fica "para trás" no decorrer dos acontecimentos.
Entre o peso das aspirações democráticas crescentes de tchecos e eslovacos e a hostilidade aberta do chefe do PC soviético Leonid Brejnev, Dubcek espera que um congresso extraordinário do KSC previsto para setembro reforce sua posição.
Estimulado pelos dogmáticos dirigentes da antiga RDA Walter Ulbricht e da Polônia Wladyslaw Gomulka, Brejnev opta, enfim, pela intervenção militar.
- 'A maior tragédia da minha vida' -
Em 21 de agosto de 1968, a ocupação da Tchecoslováquia por parte das unidades soviéticas e de outros quatro países do chamado Pacto de Varsóvia (Bulgária, Hungria, Polônia e RDA) deixa mais de 100 mortos em quatro meses de intervenção.
"Eles fizeram isso comigo, eu, que dediquei toda minha vida à cooperação com a União Soviética. É a maior tragédia da minha vida", condenou Dubcek, antes de ser preso, deportado para Moscou e obrigado a assinar um protocolo humilhante sobre a "normalização da situação".
"Na manhã de 21 de agosto de 1968, eu cheguei à estação de Zbecno (50 quilômetros ao oeste de Praga). Tinha muita gente. As pessoas gritavam 'fomos ocupados pelos russos' e estavam muito surpresas e espantadas", lembra-se Jaroslava Sindlerova, então estudante de Economia em Praga.
"E eu lhes dizia: 'Por que isso espanta vocês? Tudo caminhava para isso'. Dubcek era ingênuo. Eu tinha 20 anos e entendi. E ele, não", avaliou.
Dubcek se vê, finalmente, afastado em abril de 1969 e reduzido ao silêncio. A nação se conforma, apesar do sacrifício do estudante Jan Palach. O jovem ateia fogo ao próprio corpo, na esperança de despertar consciências. A democracia voltaria à Praga apenas com a "Revolução de Veludo", em 1989.
Expulso do PC e enviado por 15 anos para o setor de administração florestal, Dubcek tem um breve retorno à cena política e preside o Parlamento tchecoslovaco. Morre em 7 de novembro de 1992, aos 70 anos, depois de um acidente de estrada.
* AFP