A oposição de esquerda em Honduras tentava neste sábado chegar a um acordo com o tribunal eleitoral para acelerar a apuração dos votos das eleições do último domingo, enquanto o toque de recolher decretado pelo governo conteve os protestos violentos.
Juan Orlando Hernández, que lidera a apuração oficial por uma margem estreita após se candidatar a uma questionada reeleição, impôs nesta sexta-feira o estado de sítio, com toque de recolher noturno de 10 dias, o que obrigou os manifestantes a se recolher para evitar a prisão.
A capital amanheceu neste sábado suja por restos de barricadas, pedras que os manifestantes lançaram contra a polícia e muros pichados com as frases "Fora JOH!" e "JOH fraudulento!".
"Fora ditador!" e "Quatro anos mais jamais!" se lia em alguns muros após o fim do toque de recolher de 12 horas.
O líder da Aliança de Oposição contra a Ditadura, o ex-presidente Manuel Zelaya, recomendou ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE) revisar 5.174 atas sobre as quais restam dúvidas devido a uma série de interrupções suspeitas do sistema de transmissão dos resultados na última quarta-feira.
O presidente do TSE, David Matamoros, convocou Zelaya e o candidato da Aliança, Salvador Nasralla, a revisar apenas 1.006 atas com inconsistência no número de votos ou por falta de assinatura dos delegados das mesas de votação.
O presidente Hernández, candidato à reeleição pelo direitista Partido Nacional (PN), pediu ao TSE que se limite a conferir apenas as atas inconsistentes.
Hernández, 49 anos, busca o segundo mandato amparado por uma decisão da Justiça, apesar de a Constituição proibir a reeleição em Honduras.
Com 94,31% dos votos apurados, Hernández liderava com 42,92%, contra 41,42% de Nasralla, um apresentador de TV de 64 anos.
A aliança opositora questionou as cifras porque a primeira contagem dos votos dava a Nasralla cinco pontos de vantagem com 57% dos votos apurados. Em seguida, o sistema de informática sofreu interrupções frequentes, uma delas de cinco horas, e, a partir de então, a apuração favoreceu o presidente Hernández.
Os dirigentes da Aliança, que denunciaram meses antes o favorecimento do governante pelo TSE, denunciaram o "roubo" de sua vitória.
A oposição e analistas haviam advertido sobre um eventual conflito devido à falta de credibilidade do TSE, que dizem ser controlado por Hernández.
O tribunal eleitoral é formado por três juízes titulares e um suplente. Este último, Marco Ramiro Lobo, havia advertido que a diferença de cinco pontos para Nasralla era irreversível, por se tratarem de 57% dos votos, o que acendeu a chama do conflito.
- Saques e incêndios -
"É fundamental não continuar atrasando a apuração de que o país precisa", disse Hernández na noite de ontem, após uma reunião com membros das delegações de observadores da União Europeia (UE) e Organização de Estados Americanos (OEA), que buscam uma saída para o conflito.
Matamoros anunciou que deveria-se chegar a um acordo para continuar a apuração neste sábado.
"Olhem o que está acontecendo em todo o país por causa desses atos de vandalismo, incêndios, saques, isso não é justo", disse Hernández.
Os resultados eleitorais em favor de Hernández resultaram em uma onda de protestos violentos em diferentes regiões, com barricadas e saques, e policiais e militares lançando bombas de gás, o que mergulhou o país no caos.
Hernández é questionado por diferentes setores porque a reeleição era proibida. Ele conseguiu se candidatar depois que a Seção Constitucional da Suprema Corte, com juízes nomeados por ele, levantou a proibição.
* AFP