O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, afirmou, em discurso em rede de televisão neste domingo (19) cercado de militares, que não renunciará ao cargo, como anteciparam fontes próximas ao chefe de Estado. O ditador está em prisão domiciliar, determinada pelo Exército, e enfrenta a insubordinação de seu partido político, o (Zanu-PF), desde meados da semana passada.
No discurso, ele declarou que o congresso de seu partido está previsto para daqui a algumas semanas e que ele irá presidi-lo. No entanto, a legenda o expulsou do quadro na manhã deste domingo (19). A sigla determinou que entraria com procedimento de impeachment contra Mugabe na segunda-feira (20) se ele não renunciasse à Presidência ainda no fim de semana.
Mugabe lidera o Zimbábue com mão de ferro desde a independência da Grã-Bretanha, em 1970. Sob sua liderança, o país empobreceu e hoje atravessa uma profunda crise econômica que provoca descontentamento crescente entre a população.
Crise institucional com militares no controle
O partido político era até agora um aliado fiel de Mugabe. No entanto, desde que o exército tomou o controle do país, a sigla defende que o presidente deveria se "aposentar para descansar como homem de Estado idoso que é".
O pontapé para a dança nas cadeiras foi dado na manhã de sábado (18), com um protesto pacífico de milhares de manifestantes nas ruas da capital Harare para pedir que o ditador, cada vez mais abandonado por seus aliados, deixe o poder. A mobilização é apoiada pelas Forças Armadas, que controlam o país, impõem ao presidente prisão domiciliar e o pressionam a renunciar.
Neste domingo, o chefe do exército, Constantino Chiwenga, reuniu-se com Mugabe no palácio presidencial. Não se sabe o conteúdo da reunião. Pela manhã, os veteranos de guerra da independência do Zimbábue pediram a renúncia de Mugabe.
— Ele deveria renunciar. Se não fizer, isso, o exército deve terminar logo com ele — afirmou o chefe da poderosa associação de veteranos de guerra, Chris Mutsvangwa, horas antes da reunião de Mugabe com os militares.
Quem é Robert Mugabe
Formado em História, Inglês, Direito e Economia, o ex-guerrilheiro marxista Robert Mugabe revelou múltiplas faces nos 37 anos em que comanda o Zimbábue. Em 1979-1980, quando a vizinha África do Sul vivia sob a segregação do apartheid, a então Rodésia surgia ao mundo como um modelo para o continente.
Após a guerra civil pela independência da Grã-Bretanha, a qual deixou 27 mil mortos, eleições alçaram o intelectual guerrilheiro - que já cultivava o bigode da largura de um minguinho - a primeiro-ministro com discurso de união racial e distribuição de riquezas. Em momentos de popularidade e reconciliação, foi comparado a Nelson Mandela e Barack Obama.
De conciliador, passou a um autoritário bilionário disposto a reprimir qualquer oposição. Mugabe é acusado pela oposição por vencer eleições em pleitos repletos de perseguições, prisões, assassinatos, torturas e fraudes.