Múltiplos anúncios e ataques em vários continentes: de Manchester a Melbourne, passando por Somália, Indonésia, Egito, Manila, Londres e Irã, os últimos dias foram marcados por uma série de ataques reivindicados pelo Estado Islâmico (EI). E a maioria dos atentados foi atribuída ao grupo extremista pela agência de notícias Amaq, criada pelo próprio EI.
Embora tente adotar os códigos dos meios de comunicação internacionais, a Amaq serve como um instrumento de propaganda, segundo especialistas, embora os serviços antiterroristas considerem as reivindicações confiáveis.
– A multiplicação de reivindicações nos últimos dias coincide com a multiplicação dos ataques – disse à AFP Mathieu Guidère, especialista nos grupos islamitas.
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As reivindicações da Amaq correspondem a atos inspirados, guiados ou organizados pelo EI "porque (eles) não podem se dar ao luxo de mentir sobre um ataque ou reivindicar ataques que não foram executados em seu nome.
– Se fosse o caso, seriam motivo de risada de todos os grupos extremistas. É a sua credibilidade que está em jogo – diz Guidère.
Substituir o Twitter
Thomas Jocelyn, do centro de reflexão Foundation for Defense of Democracies, em Washington, afirmou que não há indícios sobre reivindicações falsas do EI por meio da Amaq.
– Pode ser que às vezes exagerem ou tenham problemas, mas não há nenhum exemplo de uma reivindicação claramente inexata – assinalou Jocelyn.
Durante o apogeu do califado autoproclamado pelo EI nos territórios que controlava na Síria e no Iraque, a comunicação do grupo estava centralizada e sob controle dos poderosos chefes. Agora, está descentralizada e mais rápida, considerou Guidère.
– Criaram uma nova maneira de reivindicar (ataques) – assinalou. – Antes, precisavam da autorização do comando central. Agora, como perdem terreno em várias frentes, a Amaq conta com vários correspondentes descentralizados que têm o poder de reivindicar ataques em nome do EI.
Segundo Guidère, "foram feitos chamados a todos os seus apoiadores, em todo o mundo, para estimulá-los a agir para mostrar que não estão derrotados, apesar dos reveses na Síria e no Iraque".
– Querem demonstrar que seguem ativos fora das terras do califado, e que o número de combatentes fora do califado é mais importante do que dentro.
Para que o grupo reivindique um atentado, deve existir um vínculo entre o EI e o extremista que executou, explicou à AFP Romain Caillet, especialista no tema.
– Ou os organizaram diretamente, ou há elementos suficientes para que estejam convencidos de que guiaram ou inspiraram o autor do ataque. Pode ser um vídeo, mensagens ou uma ligação – apontou. – A Amaq foi criada pelo Estado Islâmico para substituir as contas do Twitter que utilizava antes e foram encerradas.
Entretanto, não se sabe em detalhes como a Amaq funciona, apesar dos depoimentos de alguns antigos membros que deixaram o grupo ou de integrantes detidos e interrogados.
Eles a descrevem como um organismo importante do EI, com muitos recursos e considerado crucial pelos chefes do grupo.
Na semana passada, foi anunciada nas redes sociais a morte de um dos fundadores da Amaq, o sírio Rayan Machaal, em um bombardeio da coalizão internacional comandada pelos Estados Unidos. A informação não foi confirmada até agora.