As Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança árabe-curda apoiada pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, entraram nesta terça-feira em Raqa, marcando o início do ataque final a este reduto do grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria.
No início da manhã, as FDS anunciaram a última etapa desta ofensiva lançada há sete meses que permitiu recuperar progressivamente vastas regiões ao redor da cidade e assim cercar os extremistas.
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– Declaramos hoje o início da grande batalha para libertar Raqa, a capital do terrorismo – declarou o porta-voz das FDS, Talal Sello, a jornalistas no vilarejo de Hazima, ao norte de Raqa, nas mãos do EI desde 2014.
Logo depois, uma comandante das FDS, Rojda Felat, anunciou a entrada das tropas "no bairro de Meshleb, zona leste da cidade".
Ela também afirmou que combates violentos eram travados nos arredores da zona norte da cidade.
A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) confirmou a entrada das FDS na região, onde assumiram o controle de vários edifícios.
– Tomaram o posto de controle em Meshleb e de vários prédios – disse o porta-voz do OSDH, Rami Abdel Rahman.
As FDS atacam Raqa pelo norte, oeste e leste, segundo Sello. "Com os aviões da coalizão internacional e as armas que nos forneceram vamos retomar Raqa", garantiu.
Batalha Longa e difícil
O general americano Steve Townsend, comandante das forças da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, advertiu em um comunicado que a batalha será "longa e difícil".
No entanto, "será um golpe decisivo" para o "califado do EI", afirmou, em referência ao "califado" autoproclamado pelo EI em 2014 nos territórios conquistados na Síria e no vizinho Iraque.
O general Townsend acrescentou que a ofensiva em Raqa se inscreve numa batalha mais ampla contra o EI, que reivindicou uma série de ataques na região e também na Europa.
– O EI ameaça todas as nações, não apenas o Iraque e a Síria – ressaltou.
No Iraque, os extremistas estão perto de perder Mossul, seu último grande reduto urbano no país.
Em preparação à ofensiva final em Raqa, "a coalizão realizou ataques aéreos durante a noite", de acordo com OSDH.
Sello pediu aos civis na cidade para se afastarem das posições do EI e das frentes de combate.
A coalizão liderada por Washington fornece à aliança árabe-curda apoio aéreo e ajuda em terra com assessores.
Enquanto Raqa é cercada em terra pelo norte, leste e oeste, os "aviões da coalizão atacam os jihadistas que tentam cruzar o rio" a partir do sul da cidade, indicou o OSDH.
Cerca de 300.000 pessoas vivem em Raqa, incluindo 80.000 deslocados internos que fugiram de outras partes da Síria desde o início da guerra.
As forças anti-extremistas acusam o EI de utilizar os civis como "escudos humanos" e de se esconder entre a população.
Os riscos também são grandes para os civis que tentam fugir.
Riscos para os civis
De acordo com o OSDH, um ataque aéreo da coalizão internacional deixou 21 mortos entre os civis que tentavam fugir nesta segunda-feira da cidade.
"Os civis embarcavam em pequenos barcos na margem norte do rio Eufrates para escapar dos subúrbios da zona sul de Raqa", explicou Rami Abdel Rahmane. Mulheres e crianças estão entre as vítimas.
Aviões russos também realizaram ataques contra comboios do EI que tentavam deixar Raqa.
Quase 200.000 pessoas deixaram a cidade, de acordo com um porta-voz da coalizão internacional.
A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras também indicou que a fuga de civis sírios de Raqa estava em ritmo acelerado. Cerca de "800 pessoas chegam diariamente no campo" de deslocados de Ain Issa, trinta quilômetros ao norte de Raqa, e a situação é difícil devido à falta de meios humanitários.
Iniciada em março de 2011 pela repressão do regime às manifestações pacíficas pró-democracia, a guerra na Síria tornou-se mais complexa com a ascensão dos jihadistas e o envolvimento de atores regionais e internacionais.
O conflito já deixou mais de 320.000 mortos e obrigou mais da metade dos quase de 22 milhões de habitantes a deixar suas casas.
* AFP