Ao som de Fortunate Son, um hino de protesto contra a Guerra do Vietnã da banda Creedence Clearwater Revival, eleitores republicanos se acotovelaram nas cercas de um anfiteatro no centro de Miami, na tarde desta quarta-feir, para aplaudir o candidato à presidência Donald Trump. A música repetida em volume alto caixas de som no palco animou os cerca de 4 mil apoiadores que viram o último comício de Trump na Flórida, um Estado fundamental nas eleições. A estrutura montada à céu aberto em Bayfront, uma das áreas mais bonitas de Miami, lembrou a de um evento artístico pop.
Ao ingressar, eleitores recebiam uma fita de pulso para identificação. Tendas com água, suco e, claro, hambúrguer e cachorro quente garantiram a alimentação dos militantes que chegaram com quatro horas de antecedência. Autoridades americanas dispensam aos candidatos a mesma estrutura de segurança de uma celebridade.
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Por isso, policiais tomaram o gramado do anfiteatro. Nas partes mais altas, era possível ver vigilância com rifles. Entre os expectadores, homens de terno preto e gravata, com óculos escuros e pontos eletrônicos monitoravam cada movimento. Nos acessos, todos foram revistados. Bandeiras e cartazes improvisados, recolhidos. Só entrava material oficial de campanha.
Uma hora antes da chegada do candidato, representantes do partido republicano se revezaram ao microfone. Raul Labrador, congressista pelo Estado de Idaho, ferrenho opositor de Barack Obama, foi um dos primeiros a falar. Pediu que todos dessem as mãos e rezassem pela benção de Deus a Trump na corrida pela Casa Branca.
Cartazes em busca de apoio nos eleitorado adversário
Pontualmente ao meio-dia, um comboio de caminhonetes parou atrás do palco quando a plateia ainda cantava o clássico do Creedence. Trump desceu do carro vestindo terno, camisa e um boné branco onde se lia o bordão da campanha: Make America Great Again (Faça a América grande de novo).
– Vim aqui para dizer que vamos impedir a volta dos Clinton à Casa Branca – começou, seguido de aplausos e gritos.
Cartazes oficiais eram distribuídos em profusão. "Hispânicos com Trump", "Mulheres com Trump", "Veteranos de Guerra apoiam Trump". Sunny McVoy, da Flórida, não se importa com os comentários do candidato sobre as mulheres relevados recentemente.
– Prefiro um presidente que seja politicamente incorreto à Hillary, que está escondendo muita coisa do povo americano.
Rodrigo Hernandez, filho de imigrantes cubanos também não vê problemas na verborragia do concorrente republicano.
– Veja, ele não é contra imigrantes como eu. Trump vai mandar embora aqueles que estão aqui ilegalmente e representam um problema social que não pode ser resolvido por nós americanos.
Hillary é "trapaceira", acusou o bilionário
Fileiras de câmeras de emissoras do mundo todo captavam o discurso quando Trump disparou:
– A imprensa aqui neste país tem lado. Eles manipulam informações e pesquisas para beneficiar Hillary. Não acreditem neles.
Trump repetiu a retórica que o caracterizou nos últimos meses. Dedicou mais de 20 minutos para atacar a rival. Classificou Hillary de "corrupta", "manipuladora" e "trapaceira" – este último adjetivo repetido oito vezes. Desqualificou a política e os políticos:
– Quando tomar posse, vou limpar o pântano que se formou em Washington.
E voltou a prometer a construção de um muro na fronteira. Foi quando um manifestante infiltrado subiu na cerca e passou a chamar, aos gritos, Trump de racista. O candidato interrompeu a fala e agradeceu a presença de um rival. Seguranças não levaram mais de um minuto para retirá-lo da plateia.
Após quase uma hora falando de improviso, o bilionário encerrou pedindo que os eleitores não deixem de votar na terça-feira. Desceu do palco aplaudido, ao som de Rolling Stones: You Can´t Always Get What you Want (Nem sempre você consegue o que quer).