

Nove homens colhiam mogno na mata fechada em Copén, Honduras, quando Alonso Pineda e o seu filho apareceram, armados com espingardas. Um mandado de prisão paira sobre os dois por desmatar a floresta ilegalmente, mas nesse dia eles posaram como protetores da floresta.
- Isto é propriedade privada, e essa árvore é contrabando - gritou Pineda, testemunhas recordam.
As reivindicações de Pineda não eram verdadeiras, presumivelmente era parte de um estratagema para se apropriar da madeira para si. Na verdade, os homens derrubando a madeira nesse dia pertencem a uma cooperativa legalizada que maneja a floresta há quase 15 anos sob acordos com o governo que incluem licenças para recolher o valioso mogno, deixando o resto da floresta praticamente intocada.
- Você terá que me tirar daqui morto - respondeu um dos homens.
Outra pessoa ligou uma motosserra, recorda-se outro membro do grupo, Luis Ruiz, e os dois bandidos desapareceram entre as árvores.
Foi apenas uma visão fugaz de Pineda que levou os colonos à floresta para cortar as árvores e substituí-las por plantações de milho e pastagens, as quais eventualmente podem ser vendidas, afirmam os residentes e peritos florestais. As comunidades de conservação da floresta, que é propriedade do Estado, dizem que estão perdendo os seus meios de subsistência por causa dessas incursões.
- Nós temos direitos, mas somos incapazes de exercê-los, porque não há nenhuma lei. Não há nenhum apoio, e estamos desprotegidos - disse Eliberto Barahona, o presidente do Brisas de Copén, uma das várias cooperativas trabalhando legalmente no Parque Nacional Sierra Río Tinto.
Se o governo não puder impor os seus próprios contratos, Barahona acrescentou, "todo o esforço que fizemos durante todo esse tempo será destruído".
O que está acontecendo aqui no extremo nordeste de Honduras demonstra o quão rapidamente os mais bem sucedidos esforços de conservação podem ser revertidos quando as estruturas estatais desabam. O Estado de Direito sempre foi frágil em Honduras, mas desde o golpe de Estado em 2009, ele se desintegrou ainda mais rapidamente sob a pressão da corrupção e do tráfico de drogas.
Madeireiros ilegais, pecuaristas e especuladores de terras há muito têm devastado essa área do país. Agora que Honduras tornou-se um ponto de transferência central para os carregamentos de drogas destinadas aos Estados Unidos, há mais dinheiro para pagar - e os invasores de terras, que derrubam a floresta e transformam a terra em negócio, como a criação de gado, que pode ser usado para lavar o dinheiro do narcotráfico.
- O que fez do narcotráfico uma virada de jogo é que ele permite que as florestas sejam convertidas tão rapidamente porque elas ficam tão saturadas de dinheiro e de violência - disse Kendra McSweeney, professora de Geografia, da Universidade Estadual de Ohio.
Em um artigo recente no jornal Science, McSweeney, que vem estudando as florestas na Honduras Oriental há duas décadas e outros pesquisadores encontraram uma correlação clara entre os aumentos das remessas de drogas na Honduras Oriental e o desmatamento.
Demorou mais de uma década e um considerável apoio internacional para que Copén e algumas outras aldeias à beira dos aproximadamente 526.091 hectares da reserva de Biosfera do Río Plátano se tornassem modelos de conservação florestal. O governo de Honduras permite que as comunidades aqui no vale do Paulaya Sico vendam uma quantidade limitada do mogno florestal, dando-lhes um incentivo para proteger e manejá-lo por anos.
A GreenWood, uma organização sem fins lucrativos de Maine que trabalha em estreita colaboração com as cooperativas, encontrou em Bob Taylor um cliente para o mogno, presidente da Taylor Guitarras na Califórnia, que está disposto a pagar adiantado e a esperar os carregamentos retardados pela burocracia hondurenha.
- Todo mundo fala do desenvolvimento sustentável, mas isso é um trabalho de longo prazo. Tudo isso vai por água abaixo se essas invasões ilegais não forem impedidas - disse Scott Landis, presidente do GreenWood, listando tudo que a floresta proporcionou em Copén, incluindo uma microusina hidrelétrica e as melhorias nas escolas.
As comunidades estão esperando para ver se o novo presidente de Honduras, Juan Hernández de Orlando, vai fazer alguma diferença. Ele promete políticas com "mãos de ferro" para combater o tráfico de drogas e à ilegalidade, mas os silvicultores dizem que essa abordagem não consegue lidar com o problema subjacente.
- O futuro desse projeto depende de governança. Sentimos que estamos sozinhos nessa questão. Ninguém falou de políticas direcionadas aos recursos naturais - disse Melvin Cruz, o diretor da Fundação Madeira Verde, homólogo hondurenho da GreenWood.
No papel, parece haver proteção florestal: uma lei florestal de 2007 que prevê o envolvimento da comunidade, uma comissão especial do governo para a reserva da biosfera e a sua zona de segurança, e até mesmo uma unidade militar ambiental separada que prometeu montar 100 pontos de controle no entorno da enorme reserva.
Entretanto, em 2011, o governo hondurenho pediu a Unesco para incluir a reserva, um Patrimônio Mundial da Unesco, em sua lista "de risco", reconhecendo que ele não poderia cumprir a lei por causa da ameaça do narcotráfico.
As autoridades locais, incluindo os funcionários do Instituto Nacional de Conservação e Desenvolvimento Florestal Estatal, se sentem impotentes. Anibal Duarte, o prefeito de Iriona, o município abrangendo a área, disse que ele havia se dirigido até a Polícia Militar Ambiental, mas que os comandantes eram frequentemente alternados e não faziam nada.
- As estratégias não funcionaram. Precisamos de outra estratégia. Não sei qual, mas precisamos de uma - disse Duarte.
O mandado de prisão de 2012 contra Pineda, a esposa e os dois filhos tem sido a única vitória das cooperativas até agora, embora primeiro as comunidades tenham tido de trazer o promotor público para ver os estragos. Desde então, mais colonos chegaram, e até os membros das cooperativas desistiram e começaram a desmatar.
- Há uma cultura forte de que o território nacional existe para ser ocupado e transformado em propriedade particular - disse Filippo Del Gatto, que ajudou a criar as primeiras cooperativas na década de 1990.
Desafiar esses interesses ilícitos pode ser letal. Há um ano, Carlos René Romero, um dos oficiais superiores do Instituto Florestal Nacional, foi morto em sua casa na capital, Tegucigalpa. Ele era um engenheiro florestal respeitado com a reputação de defensor da aplicação da lei. Não houve nenhuma prisão nesse caso.
A impunidade, agravada pelo comércio das drogas, tem um efeito negativo, disse a gestora do programa do México e da América Central, Alexandra Zamecnik do Serviço Florestal Norte Americano, que trabalha com o Instituto Florestal Hondurenho.
- As pessoas não querem lutar pelas causas ambientais, como elas fariam, digamos, no Panamá.