Nuvens de vapor saem de fissuras na terra ao longo dos leitos de córregos da montanha da cidade, que descem pelas escarpas cobertas de florestas de coqueiros, sinalizando à gigantesca fonte de energia renovável que existe no subsolo.
Os engenheiros fizeram uma série de poços de 1,6 quilômetro de profundidade nas rochas vulcânicas, para chegar à água superaquecida sob enorme pressão. A água chega à superfície, se expande transformando-se em vapor e resfriando em seguida, o que gira uma série de turbinas que produzem cinco vezes mais energia do que a Ilha de Leyte, com 1,5 milhão de pessoas é capaz de consumir. O resto da eletricidade é vendido para outras ilhas das Filipinas.
Ao menos, era assim que as coisas deveriam funcionar. Quando o tufão Haiyan passou pela ilha de Leyte em novembro, seguido de uma espécie de tsunami e ventos tão fortes quanto um tornado, matando milhares de pessoas e rasgando sem esforço os telhados das casas, ele também danificou as importantes usinas geotermais do local.
Para muitos filipinos, os estragos exemplificam um paradoxo ainda maior: uma tempestade consistente com os alertas emitidos por alguns cientistas sobre a mudança climática causou danos tremendos a uma ilha, que é uma referência em termos de fontes de energia renováveis, e ao mesmo tempo um dos países que menos contribuíram para o acumulo global de gases de efeito estufa.
- Muitas famílias filipinas se transformaram em refugiados climáticos - , afirmou a senadora Loren Legarda, diretora do comitê de mudança climática do Senado Filipino. - Nós não poluímos o mundo e, ainda assim, somos vítimas de mudanças extremas no clima -
Destacando ainda mais essa triste conclusão, as conversas climáticas da ONU em Varsóvia, na Polônia, realizadas enquanto o mundo observava a força destrutiva do tufão, foram impedidas por discussões amargas entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento.
O campo geotermal de Tongonan, nos arredores de Ormoc, no oeste da ilha de Leyte é o segundo maior produtor mundial de energia geotermal, atrás apenas de uma usina na Califórnia. Ainda assim, as operações na cidade são incrivelmente desconhecidas entre os especialistas em saúde, em função de sua história incomum e de uma tendência persistente pelo sigilo por razões de segurança nacional.
O Novo Exército do Povo, uma das milícias maoístas mais antigas do mundo e uma ameaça constante - ainda que de baixa intensidade - à ilha de Leyte, representa um risco potencial às operações da usina. Um pequeno exército de soldados e guardas de segurança defendem o local e mantêm uma série de postos de vigilância para afastar os visitantes dos vales montanhosos onde as cinco usinas geotermais estão localizadas.
A força extraordinária dos ventos tufão Haiyan despedaçou florestas de coqueiros que se alinhavam no vale estreito e inclinado que, por anos, gerou boa parte da energia geotermal. Especialmente nas regiões próximas ao cume, quilômetros e mais quilômetros de árvores passaram de verde para marrom desde que os ventos quebraram quase todas as copas das árvores. Em seguida, os ventos mudaram de direção e dobraram os troncos flexíveis até que se partissem.
Contudo, abrigadas no vale abaixo, as casas dos 795 funcionários da usina resistiram surpreendentemente bem, embora uma das casernas militares tenha perdido boa parte da cobertura de zinco verde do teto. Agnes de Jesus, vice-presidente sênior para o meio ambiente da Energy Development Corp., proprietária das usinas elétricas, afirmou que ninguém morreu ou se feriu gravemente nas usinas durante o tufão, mesmo quando a enchente atingiu o outro lado da ilha, 80,5 quilômetros a leste, matando milhares de pessoas nas cidades costeiras de Tacloban, Palo e Tanauan.
Em resposta ao embargo do petróleo árabe em 1973, o presidente Ferdinand Marcos começou a desenvolver o campo no fim dos anos 1970, com um pequeno projeto de demonstração. O objetivo desde o começo não era ambiental, mas nacionalista e econômico: reduzir a dependência filipina da energia importada e economizar dinheiro nas contas com combustíveis.
Depois que o projeto inicial se mostrou bem sucedido, cinco grandes usinas termelétricas foram construídas sobre poços no mesmo vale em meados dos anos 1990, cada uma delas grande o bastante para produzir energia para a ilha toda. Cada uma das cinco foi construída por uma empresa diferente e, em seguida, odas foram transferidas para uma companhia estatal.
Depois de um tempo, a estatal as privatizou, transformando-a na Energy Development Corp., uma empresa cujas ações começaram a ser comercializadas na Bolsa de Valores das Filipinas há sete anos.
O vale difere de muitos lugares com características geotermais no mundo, nos quais as pedras subterrâneas são mais quentes e o que sai dos poços é água superpressurizada, não vapor.
A água subterrânea aqui é aquecida a temperaturas escaldantes que vão de 249 a 349 graus Celsius. Quatro das usinas funcionam essencialmente por meio de um processo de dois passos: primeiro eles giram as turbinas usando a tendência da água de se transformar em vapor a essa temperatura e, então, giram outras turbinas à medida que o vapor resfria. Por fim, as quatro usinas foram projetadas para condensar o vapor em água dentro de torres de resfriamento feitas de madeira e reforçadas com aço, que injetam a água de volta no chão.
O tufão destruiu as 4 torres de resfriamento, despedaçando a madeira e derrubando o aço. A Energy Development Corp. está estudando se deve substituir as torres de resfriamento por construções idênticas, ou construir novas que sejam mais duráveis, afirmou Leonita Sabando, chefe de gestão ambiental no local.
A quinta usina elétrica faz a expansão da água em vapor, o resfriamento e a condensação do vapor em um único complexo. Ainda assim, essa usina não é tão alta e, por isso, sofreu muito menos danos. A empresa está testando todos os componentes da usina elétrica na esperança de que ela volte a funcionar normalmente, energizando novamente a ilha de Leyte até o dia 24 de dezembro, o prazo nacional para reestabelecer a eletricidade depois do tufão, afirmou Jesus.
Substituir postes de distribuição de eletricidade que se quebraram na ilha de Leyte representa outro desafio. Phil Morales Jr., líder das equipes de escavação no centro de Leyte, estima que apenas 10 por cento dos postes sejam novos ou sobreviveram à tempestade ao longo do trecho de 80,5 quilômetros que está sob sua responsabilidade; o número de postes que resistiu em vilarejos a norte e sul da principal rota leste-oeste da ilha é ainda menor.
- A espinha dorsal deve ser energizada em dezembro deste ano, mas não as laterais - , afirmou enquanto a equipe parava para o almoço no calor escaldante de Tunga, uma cidade nas colinas do centro de Leyte.
Outras ilhas não sofreram cortes de energia, a não ser como resultado de danos nas linhas de transmissão, à medida que usinas elétricas de outras partes das Filipinas compensaram a perda de capacidade geotérmica da região, afirmou Cynthia Alabanza, porta-voz da Empresa Elétrica Nacional das Filipinas.
Cerca de um nono do consumo de eletricidade das Filipinas é de origem geotérmica, a maior parte gerada aqui; a energia geotérmica é responsável pela geração da metade da eletricidade da região central das Filipinas, mas corresponde apenas a uma pequena parcela da eletricidade necessária para o consumo intenso do norte das Filipinas, incluindo Manila, que conta especialmente com o carvão mineral.
Engenheiros de projeto preveem que as pedras subterrâneas aquecidas pela atividade vulcânica há um milhão de anos, não irão se resfriar significativamente pelo próximo milhão de anos, ao passo que as águas subterrâneas são constantemente reabastecidas pela água que volta da superfície.
Embora a energia geotérmica seja um sucesso na região, poucos outros países - notadamente a minúscula Islândia - possuem recursos similares. Geólogos das China, disparado a maior emissora de gases do efeito estufa, não encontraram águas subterrâneas igualmente quentes para a geração de eletricidade no país, embora águas subterrâneas aquecidas sejam bombeadas na região de Xi'an para aquecer milhares de casas durante o inverno.
À medida que o sol se alternava com pancadas de chuva certa tarde, uma série de arcos-írises apareciam sobre o vale. Eles se pareciam com o arco-íris que a Bíblia descreveu que Noé teria visto, como uma promessa de que a humanidade iria sobreviver depois da grande enchente.
- É a esperança de que podemos voltar à normalidade, é um sinal para nós, porque nós filipinos acreditamos em Deus - , afirmou de Jesus.
Fenômeno climático
Passagem do tufão Hiyan pelas Filipinas danificou usinas geotermais do país
Cerca de um nono do consumo de eletricidade das Filipinas é de origem geotérmica
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